A expectativa por novas drogas-alvo continua, a imunoterapia cresce e a seleção de pacientes é fator crítico no tratamento.
O câncer de pulmão permanece como patologia responsável por altas taxas de incidência e morbidade e, apesar de todo o progresso no diagnóstico e caracterização molecular, a maioria dos pacientes apresenta doença avançada e irressecável ao diagnóstico. A boa notícia é que os avanços continuam e parcela dos pacientes já se beneficia dessas inovações.
Em 2014, o aguardado estudo britânico, o National Lung Screening Trial (NLST) mostrou que a triagem com tomografia computadorizada de baixas doses (TC) é superior à radiografia de tórax na redução da mortalidade pela doença e é custo-efetiva. O estudo foi liderado por William C. Black e colegas, publicado na edição de 6 de novembro do New England Journal of Medicine.
Em pequenos tumores, a ressecção continua como tratamento de escolha e a cirurgia videoassistida (VATS, do inglês Video-Assisted Thoracic Surgery) ganha espaço, na tendência da abordagem minimamente invasiva.
Para pacientes idosos, não candidatos à cirurgia, estudo publicado em 2014 na edição online de 15 de outubro do JAMA Surgery trouxe a maior base de evidências em escala populacional e mostrou o papel da radioterapia estereotáxica ablativa nesse subgrupo.
Outro saldo das inovações é o corpo crescente de evidências demonstrando que os subtipos moleculares de câncer de pulmão podem influenciar a decisão terapêutica. Mutações em vários oncogenes (AKT1, ALK, BRAF, EGFR, HER2, KRAS, MEK1, MET, NRAS, PIK3CA, RET e ROS1) são responsáveis por induzir e sustentar a tumorigênese no câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC).
No cenário da doença avançada, o uso de inibidores de tirosina-cinase continua a ser o padrão de cuidados para pacientes com mutações EGFR ou fusão ALK, com altas taxas de resposta (60% -70%) e impacto na sobrevida livre de progressão. Não há um painel universal, mas a seleção molecular mostra que a terapia personalizada tem cada vez mais lugar no tratamento do CPNPC. No entanto, a resistência adquirida aos inibidores de tirosina-cinase ainda é um desafio.
A combinação com antiangiogênicos requer novas evidências, mas em 2014 o estudo japonês (JO 25567) que comparou erlotinibe com ou sem bevacizumabe demonstrou diferença de 6,3 meses na sobrevida livre de progressão com o esquema de combinação (P = 0,0015; HR = 0,54).
A imunoterapia também se anuncia como importante opção de tratamento. Agentes como ipilimumabe, um anticorpo humanizado anti CTLA-4, e aqueles que bloqueiam a proteína programada para matar (PD-1) e seus ligantes (PD-L1) têm demonstrado resultados encorajadores e novas evidências são aguardadas com expectativa em 2015.
No ELCC de 2014, o maior encontro sobre câncer de pulmão da Europa, o grupo liderado por Armida D’Incecco, do Istituto Toscano dei Tumori, em Livorno, Itália, mostrou que a combinação de imunoterápicos com drogas-alvo pode ter lugar em CPNPC. Este estudo demonstra que o bloqueio de PD-1 e PDL-1 pode resultar em benefícios duradouros, com taxas de resposta global de 20% a 25% e provavelmente esses agentes se tornarão parte da prática diária para o câncer de pulmão não-pequenas células, em um futuro próximo.
Os esforços em torno de uma vacina capaz de gerar respostas imunes também prosseguem.
Clarissa Mathias
Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT)