Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) aborda a associação entre a translocação entre os cromossomos 8 e 14, o gene c-MYC e o linfoma de Burkitt, câncer do sistema linfático de crescimento extremamente rápido. Confira.
Por André Marcio Murad*
A translocação cromossômica é uma anomalia cromossômica causada pelo rearranjo de partes entre cromossomos não-homólogos. Um gene de fusão pode ser criado quando a translocação se une a outros dois genes separadas, um evento bastante comum na carcinogênese.
O linfoma de Burkitt é um tipo de câncer que afeta as células B, que são um tipo de linfócito responsável pela produção de anticorpos. Uma proporção significativa de indivíduos com linfoma de Burkitt apresenta uma anormalidade genética específica conhecida como translocação recíproca. Essa translocação envolve a troca de material genético entre o cromossomo 8 e os cromossomos 2, 14 ou 22.
Como resultado dessa translocação, um gene específico chamado c-MYC é realocado de sua posição original na ponta do cromossomo 8 para um novo local no cromossomo 2, 14 ou 22. É importante ressaltar que esse novo local é adjacente a um gene que codifica uma proteína imunoglobulina, a qual desempenha um papel fundamental na função imunológica.
Na sua nova localização, o gene c-MYC, que é conhecido por contribuir para o desenvolvimento do processo de carcinogênese, pois as células afetadas passam a ser controladas por sequências reguladoras que normalmente ativam a produção de imunoglobulinas. Consequentemente, dentro das células B, o c-MYC torna-se expresso devido aos sinais reguladores do gene vizinho da imunoglobulina.
A expressão da proteína c-MYC nas células B tem implicações significativas. Estimula a divisão destas células B, levando à proliferação descontrolada e, em última análise, contribuindo para o desenvolvimento do linfoma de Burkitt, câncer do sistema linfático de crescimento extremamente rápido.