SOFT e TEXT foram a informação mais importante apresentada; barreiras ainda dificultam prevenção e diagnóstico precoce. Na doença metastática HER2 positiva, o CLEOPATRA mostrou ganho de sobrevida com a combinação de taxano, trastuzumabe e pertuzumabe, em um resultado inédito para este grupo de pacientes.
O câncer de mama continua sendo um desafio muito particular e emblemático dentro da Oncologia. Falando inicialmente das pacientes e do posicionamento social frente à doença, fica muito claro que estamos evoluindo para um cenário mais aberto e com menos preconceitos. Isto não significa que a situação seja a ideal ou que devamos deixar de manter o esforço concentrado para trabalhar as dificuldades e medos que são críticos não somente no enfrentamento do câncer de mama, mas que têm impacto na prevenção e no diagnóstico precoce.
Ainda nesta área, evidências cada vez mais consistentes apresentadas em vários congressos durante 2014 associam a obesidade com um risco maior para desenvolver câncer de mama. Certamente uma área para trabalharmos coletivamente.
Na prevenção farmacológica não surgiram evidências que modifiquem significativamente o conhecimento que já tínhamos da eficácia do tamoxifeno ou dos inibidores de aromatase. Permanecemos com o desafio de definir quando realmente indicar este tratamento de quimioprevenção com estes agentes.
Algo que acredito esteja cada vez ganhando mais impacto e reconhecimento é a identificação e abordagem das pacientes com risco genético para desenvolver câncer de mama. Ainda estamos longe, mas certamente está sendo criada uma consciência geral da necessidade de diagnosticar esses 10%-20% das pacientes com predisposição genética. Fatores de risco mais específicos para identificar quais as pacientes que devem ser investigadas e aspectos logísticos de qual o teste a ser feito, quais os genes a ser testados e o acesso ao teste devem ainda ser melhor resolvidos no Brasil. Na minha opinião, as consequências deste tipo de diagnóstico estão ainda sendo subestimadas pela maior parte dos oncologistas.
Do ponto de vista do tratamento adjuvante, a informação mais importante apresentada durante 2014 foram os resultados dos estudos SOFT e TEXT. Esperados por muito tempo, estes estudos esclarecem alguns aspectos quanto à melhor abordagem para mulheres pré-menopáusicas com receptores hormonais positivos. Certamente no grupo de pacientes com maior risco de recorrência fica claro o benefício da supressão ovariana em combinação com a hormonioterapia convencional. Entretanto, como acontece com todo resultado que avança nosso conhecimento, ficam dúvidas ou aparecem novas perguntas as quais devemos responder. Como classificar alto risco? Como será a qualidade de vida destas pacientes? A duração do tratamento precisa ser de 5 anos? Ainda temos muito trabalho pela frente e a pergunta crítica - quais as pacientes não necessitam de tratamento depois da cirurgia - permanece sem resposta.
Nas pacientes pré-menopáusicas foram apresentadas novas evidências confirmando informações anteriores que já sugeriam a possibilidade de usar a supressão ovariana paralelamente à quimioterapia adjuvante como forma de preservar a fertilidade e permitir gravidez após a quimioterapia, um aspecto que assume importância crítica para pacientes jovens após a doença.
No cenário da doença avançada, sem dúvida a informação mais impactante foi a liberação dos dados do estudo CLEOPATRA, demonstrando uma sobrevida mediana de mais de 54 meses em pacientes com doença metastática HER2 positiva com a combinação de taxano, trastuzumabe e pertuzumabe, um resultado inédito para este grupo de pacientes.
Muito avançamos no manejo do câncer de mama nestas últimas décadas, entretanto os desafios continuam grandes, o novo paradigma da personalização do diagnóstico e do tratamento nos oferece ao mesmo tempo oportunidades para melhorar o tratamento e desafios importantes de identificar o tratamento correto para cada paciente. Embora saudemos estes conhecimentos e os avanços da tecnologia, devemos reconhecer que a arte da medicina continua a estar na interação pessoal com cada uma das nossas pacientes, não existe individualização mais importante do que essa.
Carlos Barrios
Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama (GBECAM)