Avanços começam a cumprir a promessa da medicina de alta precisão, com a perspectiva de ferramentas genéticas para a seleção de tratamentos e incorporação de terapias-alvo.
Segundo Angélica Nogueira, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GBTG), no câncer epitelial de ovário (CEO), alguns resultados apresentados em 2014 merecem destaque. No cenário de doença recidivada e platino-sensível, ensaio de fase II randomizado conduzido por Liu et al revelou que a combinação do inibidor da enzima PARP olaparibe com o inibidor de angiogênese cediranibe, comparado a olaparibe isolado, aumentou a sobrevida livre de progressão (SLP) de 9 para 17,7 meses (HR 0,42). Esta combinação de drogas alvo direcionadas, sem adição de citotóxicos, atingiu controle de doença superior aos controles históricos com quimioterapia e merece investigação em uma coorte maior, além de ser opção para pacientes com contra-indicação a tratamento citotóxico.
Ampliando as perspectivas para pacientes com doença platino-resistente, Pujade-Lauraine et al publicaram os resultados do estudo AURELIA que demonstrou que o acréscimo de bevacizumabe à quimioterapia – paclitaxel em dose densa, doxorrubicina lipossomal ou topotecano aumentou a SLP de 3,4 para 6,7 meses (HR 0,48), porém sem ganho em sobrevida global (SG). Ainda no cenário de resistência a platina, em estudo de fase II randomizado conduzido por Pignata et al, o acréscimo de pazopanibe a paclitaxel em dose densa aumentou SLP e SG e a continuidade desta investigação em um estudo de fase III é fortemente encorajada.
Com aproximadamente 500.000 novos casos e 300.000 mortes por ano, o controle do câncer de colo de útero segue sendo um desafio mundial. Em fevereiro de 2014, foi publicado no NEJM o estudo GOG 240, conduzido por Tewari et al, que analisou o acréscimo de bevacizumabe ao tratamento de quimioterapia em pacientes com câncer de colo de útero metastático, recorrente ou persistente. Em um total de 452 pacientes avaliadas, a adição de bevacizumabe comparada à quimioterapia isolada foi associada a aumento de SG(17 vs 13,3 meses; 0.71; IC98% 0,54-0.95; P=0.004). As pacientes que receberam bevacizumabe, no entanto, apresentaram maior incidência de HAS ≥ grau 2 (25% vs 2%), eventos tromboembólicos ≥ grau 3 (8% vs 1%) e fístula gastro-instestinal ≥ grau 3 (3% vs 0%).
Perspectiva ainda mais animadora para esta população veio com os resultados de ensaio de fase II desenvolvido pelo NCI Americano em que foi testada uma forma de imunoterapia personalizada, com células T anti-HPV. Neste ensaio pequeno de apenas nove pacientes, duas mulheres com doença metastática apresentaram resposta completa ao tratamento, com duração de resposta maior que um ano (Hinrichs et al, ASCO 2014).
Também foi obtido avanço na identificação de biomarcadores, grande desafio para potencializar a eficácia e reduzir custos com os tratamentos alvo específicos. A estratificação molecular do carcinoma epitelial de ovário em subtipos imune ou angio, conforme predomínio de expressão de genes envolvidos com ativação do sistema imune ou da angiogênese, distinguiu grupos com menor ou maior chance de responder ao inibidor de angiogênese bevacizumabe (Gourley et al, ASCO 2014).
Angélica Nogueira
Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GBTG)