Pesquisadores do UC Davis MIND Institute and Comprehensive Cancer Center identificaram 43 genes específicos da suscetibilidade do autismo que também possuem uma associação com o câncer, sugerindo que mecanismos comuns subjacentes às funções de alguns destes genes poderiam ser aproveitados para desenvolver terapias para as duas doenças.
O estudo, intitulado "Autism and Cancer Shared Risk Genes, Pathways and Drug Targets", foi publicado online no periódico Trends in Genetic.
"Esta coincidência de um grande número de genes implicados tanto no transtorno do espectro do autismo como em cânceres não tinha sido previamente destacada na literatura científica", disse Jacqueline Crawley, professorado Instituto MIND. “Mecanismos biológicos potencialmente comuns sugerem que pode ser possível adaptar tratamentos com drogas para o câncer como potenciais terapias para desordens do desenvolvimento neurológico", acrescentou.
Crawley colaborou no trabalho com o professor e presidente do Departamento de Microbiologia e Genética Molecular da UC Davis, Wolf-Dietrich Heyer, e Janine LaSalle, professor de microbiologia médica e imunologia associado ao Instituto MIND.
Incluídos nas dezenas de genes implicados tanto no câncer como no autismo estão genes para as síndromes relativamente raras, como a síndrome de Rett e esclerose tuberosa, cujos pacientes experimentam uma variedade de sintomas físicos e neurológicos, incluindo deficiência mental, bem como déficits de comunicação caracterizados como autismo.
O conceito para o estudo amadureceu a partir de um Fórum de Tendências em Genética, no Simpósio Interdisciplinar de Pesquisa do Câncer "Temas e mecanismos comuns do câncer e desordens do desenvolvimento neurológico", na UC Davis em 2014. Mas oque a proliferação de células tumorais tem em comum com a formação de sinapses e desenvolvimento do cérebro?
"Os erros associados com a manutenção do genoma durante a vida fetal podem ocorrer em períodos de tempo críticos para o desenvolvimento do cérebro, resultando em perturbações do desenvolvimento neurológico, enquanto os erros mais comumente ocorridos em tipos de células durante a vida adulta as tornam mais suscetíveis a tumores", disse Heyer.
Um valor de translação considerável pode ser adquirido a partir de um novo foco na compreensão das semelhanças genéticas entre autismo e câncer. "Pode ser possível reaproveitar medicamentos disponíveis contra o câncer, com perfis de segurança razoáveis, como terapias alvo direcionados a desordens do espectro autista (do inglês, ASD - Autism Spectrum Disorder)", escrevem os autores. "Estratificar os indivíduos com ASD que abrigam um gene de risco tanto para o autismo como para o câncer pode permitir o desenvolvimento terapêutico de medicamentos personalizados com base na mutação causal específica”, concluem.
Referência: Autism and Cancer Share Risk Genes, Pathways, and Drug Targets - Jacqueline N. Crawley, Wolf-Dietrich Heyer, Janine M. LaSalle - Trends in Genetics, 2016; 32 (3): 139 DOI: 10.1016/j.tig.2016.01.001