Estudo que comparou bortezomibe ao transplante autólogo no tratamento do mieloma múltiplo está entre os destaques da ASCO 2016, o maior encontro da oncologia mundial, de 3 a 7 de junho, em Chicago. O trabalho é do European Myeloma Network (Abstract 8000).
“Diversos estudos têm mostrado que a indução curta seguida do transplante é superior, deixando claro que o transplante permanece como importante estratégia de tratamento e deve ser oferecido como tratamento de primeira linha para o grupo de pacientes considerado elegível”, afirma Ângelo Maiolino, chefe do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea da Faculdade de Medicina da UFRJ. “Para o Brasil isso é muito importante, porque hoje o transplante é um procedimento mais barato do que um ciclo inteiro de tratamento com essas novíssimas drogas. Por isso, é preciso ampliar o acesso ao transplante no país”, acrescenta.
O estudo
De fevereiro de 2011 até abril de 2014, 1503 pacientes com mieloma múltiplo sintomático recém diagnosticados, com idade ≤65 anos, foram inscritos no estudo. Desses, 1308 pacientes foram elegíveis para receber bortezomibe-melfalano-prednisona (R1) e 1266 foram randomizados (1: 1) para receber dois diferentes regimes de tratamento: bortezomibe-melfalano-prednisona (BMP, n= 512 pacientes) ou melfalano em altas doses + transplante autólogo (MEL, n = 754 pacientes).
Após um seguimento com duração mediana de 24 meses, os pacientes tratados com melfalano em altas doses (MEL) + transplante autólogo tiveram sobrevida livre de progressão significativamente superior (HR=0.76; 95% CI=0.61-0.94; P=0.010). O benefício foi verificado em diferentes subgrupos, incluindo pacientes com estadio III(HR=0.52; CI=0.32-0.84; P=0.008) e pacientes com citogenética de alto risco [t(4;14) ± del(17p) ± del(1p) ± 1q gain] (HR=0.72; CI=0.54-0.97; P=0.028).
Taxas de resposta superior ou parcial favoreceram o uso de melfalano em altas doses + transplante autólogo frente ao esquema BMP (84% versus 74%; P<0.0001). Análises estatísticas (Cox) confirmaram que o uso de melfalano em altas doses foi um preditor independente para o aumento da sobrevida livre de progressão (HR=0.61, CI=0.45-0.82; P=0.001).
Dados de sobrevida global ainda não estão disponíveis.
Em conclusão, o transplante autólogo continua como melhor opção de tratamento em MM na primeira linha.
O estudo é tema de apresentação oral na sexta-feira, dia 3 de junho.
Referência: Upfront autologous stem cell transplantation (ASCT) versus novel agent-based therapy for multiple myeloma (MM): A randomized phase 3 study of the European Myeloma Network (EMN02/HO95 MM trial). - J Clin Oncol 34, 2016 (suppl; abstr 8000)