Dados já reportados na literatura mostram que inibidores de checkpoint imune (ICIs) e terapias direcionadas a BRAF contribuíram de forma significativa para melhorar o prognóstico de pacientes com melanoma avançado ou metastático, embora mais de 40% apresentem recaída no intervalo de 3 anos após o tratamento adjuvante. “Agora, dois novos estudos fornecem forte evidência de respostas patológicas como surrogates de sobrevida de longo prazo, particularmente com ICIs, e podem prover novos biomarcadores preditivos”, sustenta David Killock, em artigo na Nature Reviews Clinical Oncology. Vinicius Vazquez (foto), chefe do Departamento de Melanoma e Sarcoma do Hospital do Câncer de Barretos, comenta a publicação.
Nesta análise, Killock traz em perspectiva os resultados do International Neoadjuvant Melanoma Consortium (INMC) e os dados reportados por Blank e colegas no ensaio holandês OpACIN/OpACIN-neo.
O INMC realizou uma análise conjunta com dados de 6 estudos envolvendo 192 pacientes com melanoma em estágio IIIB-C, sendo 138 tratados com ICIs e 51 com terapia direcionada a BRAF no cenário neoadjuvante. “As taxas de resposta patológica completa (pCR) foram semelhantes com terapia-alvo direcionada a BRAF e ICIs, com 47% e 33% (P> 0,05), respectivamente, em particular quando considerados os 104 pacientes que receberam terapia dupla com ICI (44%)”, descreve.
Killock observa que a pooled-analysis realizada pelo INMC associou pCR a benefício de sobrevida livre de recidiva (SLR) e sobrevida global (SG). A SLP em 2 anos foi de 89% versus 50% naqueles que não alcançaram pCR (P <0,001), enquanto a SG em 2 anos foi de 95% versus 83% (P = 0,027).
“Na verdade, o benefício de longo prazo da terapia direcionada a BRAF parece estar limitado a pacientes com pCR, com SLP em 2 anos de 79% contra 13% naqueles sem pCR. Em contraste, esses valores foram de 96% e 64%, respectivamente, no grupo ICI”, diz Killock. “Além disso, os pacientes com quase-pCR ou resposta patológica parcial a ICIs tinham SLD em 2 anos semelhante àqueles com pCR (100% e 94%); este número foi de 37% para aqueles sem resposta patológica”, compara. A análise também destaca que a SLD em 2 anos também foi superior com ICI versus terapia-alvo direcionada a BRAF (75% versus 47%), acrescenta.
Killock comenta ainda os resultados de Blank e colegas, “que confirmaram a excelente sobrevida livre de recorrência (SLR) em pacientes que alcançaram resposta patológica à terapia dupla com ICI neoadjuvante em dois dos ensaios incluídos na análise agrupada, OpACIN e OpACIN-neo”, ilustra.
A análise da Nature Reviews Clinical Oncology mostra uma SLR em 2 anos para as respostas patológicas completas de 97%. “Além disso, os resultados demonstraram que uma alta carga mutacional tumoral (TMB-H) e / ou uma alta pontuação de assinatura de expressão gênica relacionada a IFNγ (IFNγ-H) nas amostras tumorais pré-tratamento foram associadas à resposta patológica e, portanto, ao baixo risco de recaída. Respostas patológicas ocorreram em 100%, 91%, 88% e 39% dos pacientes com tumores IFNγ-H / TMB-H, IFNγ-H / TMB-L, IFNγ-L / TMB-H e IFNγ-L / TMB-L, respectivamente; a SLR em 2 anos foi de 100%, 94%, 83% e 50%”, analisa, sugerindo biomarcadores preditivos em futuros estudos de combinações de ICIs com agentes antiangiogênicos.
“Apesar do número ainda reduzido de pacientes, estes resultados evidenciam que a utilização de inibidores da via da MAP-Kinase anti BRAF/MEK e os ICIs no cenário neoadjuvante para portadores de melanoma metastáticos para os linfonodos (estádio III) já representa benefício clínico, tanto para seleção ou troca de terapia baseada na resposta, como evidência prognóstica. Também deve nortear novos esquemas terapêuticos e subgrupos para futuros ensaios clínicos”, observa Vasquez.
Referências:
1 - Killock, D. Pathological correlates and predictive biomarkers for neoadjuvant ICIs in melanoma. Nat Rev Clin Oncol (2021). https://doi.org/10.1038/s41571-021-00488-y
2 - Menzies, A.M., Amaria, R.N., Rozeman, E.A. et al. Pathological response and survival with neoadjuvant therapy in melanoma: a pooled analysis from the International Neoadjuvant Melanoma Consortium (INMC). Nat Med 27, 301–309 (2021). https://doi.org/10.1038/s41591-020-01188-3
3 - Rozeman, E. A. et al. Survival and biomarker analyses from the OpACIN-neo and OpACIN neoadjuvant immunotherapy trials in stage III melanomae. Nat. Med. https://doi.org/10.1038/s41591-020-01211-7 (2021)