Estudo de mundo real revelou o padrão de tratamento mais utilizado nos Estados Unidos em pacientes com câncer de próstata metastático resistente a castração (mCPRC). Abiraterona / prednisona, enzalutamida e docetaxel foram as terapias prescritas com mais frequência nas configurações de primeira, segunda e terceira linha, respectivamente, como reportam George, DJ et al. em artigo na Clinical Genitourinary Cancer. Quem analisa os resultados é o oncologista Denis Jardim (foto), coordenador de Pesquisa Clínica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Esta análise retrospectiva considerou dados de registros eletrônicos de 2559 pacientes com mCPRC a partir do banco de dados da Flatiron Health, de janeiro de 2013 a setembro de 2017. O objetivo principal foi descrever os padrões de tratamento do mundo real, incluindo tipo, duração e sequenciamento. Os objetivos secundários incluíram características dos pacientes e resultados clínicos.
Foram considerados pacientes com câncer de próstata metastático com ≥ 2 visitas clínicas documentadas, que desenvolveram resistência à castração durante o período de acompanhamento. Os pacientes inscritos tinham idade média de 74 anos, 61% brancos, 25% não brancos. Entre os pacientes com escore de Gleason conhecido ao diagnóstico, 45% tinham escore > 7. No momento do diagnóstico, 39% tinham doença estágio IV. O PSA no diagnóstico inicial, avaliado em 70% dos pacientes (n = 1784), foi de 22,3 μg / L.
De 2559 pacientes com mCPRC, 1980 (77%) receberam pelo menos 1 linha de tratamento (abiraterona, enzalutamida, docetaxel, cabazitaxel, rádio-223 ou sipuleucel-T, esta última não disponível no Brasil). Entre aqueles que receberam terapia de primeira linha, 49% foram tratados com segunda linha e, destes, 43% receberam terceira linha. Abiraterona / prednisona e enzalutamida foram responsáveis por 65% das terapias de primeira linha e 54% das terapias de segunda linha.
Os autores destacam que o uso consecutivo de abiraterona / prednisona e enzalutamida foi frequente na coorte avaliada. “As terapias combinadas administradas a 7%, 17% e 18% dos pacientes nas configurações de primeira, segunda e terceira linha, respectivamente, revelam que a maioria dos pacientes é tratada com monoterapia sequencial, seguindo as diretrizes nacionais de tratamento e informações de prescrição. No entanto, a prática comum de uso consecutivo de abiraterona / prednisona e enzalutamida representa um desvio dessas diretrizes, dada a falta de ensaios clínicos randomizados prospectivos de fase III desta abordagem”, descrevem, lembrando que dados já reportados apontam a resistência cruzada, “com benefício clínico limitado e curta duração da resposta”.
A correlação entre tipo de tratamento e desfecho mostra que a sobrevida global mediana foi maior em pacientes que receberam terapias de prolongamento da vida (23,7 meses versus 10,1 meses). Pacientes com doença de novo hormônio sensível não foram consideradas nesta análise.
“Essas percepções do mundo real sobre mais de 2.500 pacientes com mCPRC suplementam as descobertas de estudos randomizados controlados e podem ajudar a informar o desenho do estudo clínico, as diretrizes de tratamento e a tomada de decisão”, avaliam os autores.
Em setembro de 2019, o banco de dados do Flatiron Health continha dados de mais de 2 milhões de pacientes com câncer nos EUA, de mais de 280 centros de câncer.
Para Jardim, é interessante notar a preferência pelo uso de um antiandrógeno de nova geração em primeira linha, o que é justificável frente aos dados de eficácia e tolerabilidade de ambas as medicações disponíveis (abiraterona e enzalutamida). "O predomínio do uso destas medicações também em segunda linha linha demonstra que existe uma postergação da quimioterapia para linhas posteriores na prática. No entanto, devemos lembrar que para pacientes elegíveis a receberem quimioterapia essa não é uma conduta adequada, uma vez que vários estudos prospectivos revelam a pouca eficácia do sequenciamento de dois novos anti-andrógenos. É importante que a comunidade não deixe de reconhecer o paciente elegível ao docetaxel e administre esse tratamento no momento adequado. E que para os pacientes que não possam ou não queiram receber quimioterapia, novas estratégias são necessárias", conclui o oncologista.
Referência: George, D. J., Sartor, O., Miller, K., Saad, F., Tombal, B., Kalinovský, J., … Higano, C. S. (2020). Treatment patterns and outcomes in patients with metastatic castration-resistant prostate cancer in a real-world clinical practice setting in the USA. Clinical Genitourinary Cancer. doi:10.1016/j.clgc.2019.12.019