Estudo publicado no Journal of Clinical Oncology avaliou o benefício da quimioterapia baseada em docetaxel em pacientes com câncer de mama inicial de acordo com o índice de massa corporal (IMC) basal. “A obesidade não impacta somente no risco de desenvolver câncer de mama ou apresentar uma recidiva, mas também pode influenciar a efetividade de diferentes drogas”, afirma Evandro de Azambuja (foto), oncologista do Institut Jules Bordet, em Bruxelas, e um dos autores do trabalho.
“Drogas lipofílicas, como os taxanos, têm alta afinidade pelo tecido adiposo e consequentemente maior volume de distribuição. Aqui, analisamos novamente os dados de um ensaio clínico para investigar se a eficácia da quimioterapia baseada em docetaxel difere da quimioterapia não baseada em docetaxel em pacientes com câncer de mama de acordo com o índice de massa corporal (IMC) basal’, descrevem os autores.
Nesta análise retrospectiva foram revisados os dados de todos os 2.887 pacientes do estudo adjuvante BIG 2-98 comparando quimioterapia não-docetaxel a docetaxel. De acordo com o IMC basal (kg / m2) os participantes foram categorizados da seguinte forma: 18,5 a <25, magros; 25 a <30, com excesso de peso; e ≥ 30 obesos.
O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença (SLD); a sobrevida global (SG) foi o endpoint secundário. Foram correlacionados os resultados de tratamento, IMC e status do receptor de estrogênio (ER).
Resultados
Não houve diferença na SLD ou SG de acordo com o IMC no grupo não docetaxel, enquanto SLD e SG reduzidas foram observadas com o aumento da categoria de IMC no grupo docetaxel.
As taxas de risco ajustadas para SLD e SG foram, respectivamente, 1,12 (IC 95%, 0,98 a 1,50; P = 0,21) e 1,27 (IC 95%, 1,01 a 1,60; P = 0,04) para sobrepeso versus magros e foram 1,32 (IC 95%, 1,08 a 1,62; P = 0,007) e 1,63 (IC 95%, 1,27 a 2,09; P <0,001), respectivamente, para obesos versus magros.
Quando considerado o status do receptor de estrogênio, resultados semelhantes foram obtidos em pacientes com tumores ER-negativos e ER-positivos, assim como em pacientes que receberam intensidade de dose relativa ≥ 85% para docetaxel.
O status do IMC e do ER no efeito do tratamento foi evidente para SLD (P ajustado = 0,06) e SG (P ajustado = 0,04). “Essa análise retrospectiva de um grande estudo adjuvante destaca uma resposta diferencial ao docetaxel de acordo com o IMC, que exige uma reavaliação baseada na composição corporal da relação risco-benefício do uso de taxanos no câncer de mama”, observam os autores.
Azambuja enfatiza que esses dados dos taxanos necessitam de uma segunda confirmação antes de excluir seu uso em pacientes obesas. “Nossos resultados são geradores de hipóteses e necessitam de confirmação subsequente”, conclui.
Referência: Desmedt, C., Fornili, M., Clatot, F., Demicheli, R., De Bortoli, D., Di Leo, A., … Biganzoli, E. (2020). Differential Benefit of Adjuvant Docetaxel-Based Chemotherapy in Patients With Early Breast Cancer According to Baseline Body Mass Index. Journal of Clinical Oncology, JCO.19.01771. doi:10.1200/jco.19.01771