O Ministério da Saúde incorporou o pertuzumabe na primeira linha de tratamento do câncer de mama HER2-positivo metastático no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) dia 06 de dezembro. O prazo máximo para efetivar a oferta do agente terapêutico é de 180 dias. O oncologista Carlos Barrios (foto), diretor executivo do LACOG e do Hospital do Câncer Mãe de Deus, comenta a aprovação.
No Brasil, o SUS abrange cerca de três quartos da população2 . O trastuzumabe está disponível para o tratamento adjuvante de pacientes com doença em estádio inicial desde 2013, e foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento em primeira linha do câncer de mama HER2-positivo metastático em agosto de 2017.
“A decisão do governo de oferecer este medicamento que complementa o que já temos disponível (trastuzumabe com quimioterapia) e qualifica o tratamento de pacientes com câncer de mama HER2 positivo metastático é consequência de um longo processo no qual participaram sociedades médicas, oncologistas, ONGs e indústria farmacêutica, além do próprio Governo”, afirma Barrios.
Impacto
Ano passado, Barrios publicou um estudo no Journal of Global Oncology (JGO) que buscou estimar o impacto da falta de acesso a terapias anti-HER2 na mortalidade de pacientes com câncer de mama avançado HER2-positivo tratados no sistema de saúde pública no Brasil.
No estudo, os pesquisadores estimaram que 2.008 mulheres seriam diagnosticadas com câncer de mama metastático HER2-positivo em 2016, número foi obtido pela soma das pacientes com doença em estágio IV em 2016 (513 mulheres), mais aquelas que desenvolvem uma recorrência da doença após receber tratamento (neo) adjuvante (1.495 mulheres) nos últimos 5 anos (estimado com base nos resultados do estudo HERA).
De acordo com a literatura, a mediana de sobrevida global estimada para os grupos de tratamento é de 20,3 meses para a quimioterapia isolada; 40,8 meses para quimioterapia mais trastuzumabe; e 56,5 meses para quimioterapia mais trastuzumabe e pertuzumabe.
Considerando 2.008 mulheres com câncer de mama HER2-positivo metastático em 2016 e com base nos resultados de sobrevida global, as taxas de mortalidade média de 50, 25 e 18 mortes por mês foram estimadas para o tratamento do braço isolado de quimioterapia, quimioterapia mais trastuzumabe e quimioterapia mais trastuzumabe e pertuzumabe, respectivamente.
Com a aplicação destas taxas de mortalidade mensais para os próximos 24 meses, os pesquisadores calculam que das 2.008 mulheres com doença metastática em 2016, 808 mulheres estariam vivas após 2 anos de follow-up, se tratadas com quimioterapia isolada. Se estas mesmas mulheres forem tratadas com quimioterapia mais trastuzumabe (como no braço controle do estudo CLEOPATRA), o número de pacientes vivas após 2 anos aumentaria para 1.408, o que representa um ganho absoluto de mais de 600 mulheres vivas após 2 anos.
“O diagnóstico do problema da falta de acesso foi fundamental e um ponto de partida importante, mas a disposição de todos os participantes em alinhar objetivos e chegar a um ponto comum é para mim o aspecto mais crítico que sustenta o sucesso do processo”, avalia o especialista.
Segundo Barrios, uma consideração importante é aprender com esta experiência e tentar aplicar a mesma estratégia para outras tantas situações que ainda permanecem como desafios na nossa prática clínica. “Abordar cada uma delas com a mesma seriedade e disposição certamente se oferece para todos nós como uma alternativa obrigatória no futuro imediato. O diálogo inclusivo e construtivo deverá ser a receita para solucionar não somente falta de acesso, mas outras carências do nosso sistema de saúde, tanto público quanto privado”, conclui.
Referências:
1 - Estimation of Premature Deaths From Lack of Access to Anti-HER2 Therapy for Advanced Breast Cancer in the Brazilian Public Health System - Márcio Debiasi, Tomás Reinert, Rafael Kaliks, Gilberto Amorim, Maira Caleffi, Carlos Sampaio, Gustavo dos Santos Fernandes and Carlos Barrios - Published online before print July 20, 2016, doi:10.1200/JGO.2016.005678
2 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Analysis of results