Cresce o número de estudos que apoiam o uso de práticas integrativas. Meditação, acupuntura, ioga e musicoterapia estão entre as terapias com maior grau de evidência.
Em artigo publicado no Journal of the National Cancer Institute Monographs, a Society for Integrative Oncology (SIO) propôs uma definição abrangente da oncologia integrativa. Segundo a nova proposta, "a oncologia integrativa é um campo centrado no paciente e com base em evidências, que utiliza práticas mentais e corporais, produtos naturais e/ou modificações de estilo de vida de diferentes tradições ao lado dos tratamentos convencionais contra o câncer.
Estabelecer uma definição abrangente é fundamental para evitar que pacientes vulneráveis venham a ser alvo de intervenções sem evidências científicas, com potencial risco à saúde. “Existem estudos sérios que mostram a atividade de terapias integrativas. Mas é difícil separar aquilo que é pesquisa séria do que é simplesmente um relato. Tem muito mais joio do que trigo nessa história”, afirma o oncologista Ricardo Caponero, coordenador do Centro avançado de Terapia de Suporte e Medicina Integrativa do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Com a definição, a expectativa é avançar na pesquisa, prática e educação sobre cuidados integrativos.
Este ano, a SIO também publicou uma atualização do guideline de terapias integrativas durante e após o tratamento do câncer de mama. Artigo no Cancer Journal for Clinicians, da American Cancer Association, descreve resultados de estudo de revisão sistemática que avaliou mais de 80 terapias diferentes e estabeleceu graus de evidência para cada uma delas.
A prática de meditação apresentou a evidência mais sólida para reduzir a ansiedade, tratar sintomas de depressão e melhorar a qualidade de vida. Musicoterapia, ioga e massagem receberam grau B de evidência para os mesmos sintomas. Ioga recebeu grau C de evidência para o tratamento da fadiga.
Eficácia comprovada
Apesar do ceticismo inicial, diversos estudos têm demonstrado que tais técnicas, associadas ao tratamento convencional, podem contribuir para o bem-estar do paciente. “Esse movimento vem acontecendo, as evidências científicas estão surgindo. É preciso reconhecer que não é apenas o tratamento farmacológico que traz benefícios”, afirma o oncologista Gustavo Godoy, do Hospital das Clinicas da UFPE, médico da Onkos Clínica de Oncologia e coordenador do Grupo SALVO - Suporte Avançado pela Qualidade de Vida em Oncologia.
Para Caponero, apesar de alguns estudos mostrarem benefícios de técnicas, individualmente, o que faz a diferença é a mudança de estilo de vida e foco na promoção da saúde, de maneira integral. “O que a gente observa na nossa prática é que a maioria dos pacientes não se submete a apenas uma terapia integrativa. É difícil avaliar efetivamente o que faz efeito. Funciona como uma porta de entrada para realmente refazer a vida e promover uma mudança concreta de postura”, afirma.
Referências: Claudia M. Witt et al. A Comprehensive Definition for Integrative Oncology - JNCI Monographs, Volume 2017, Issue 52, 1 November 2017
Heather Greenlee et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and after breast cancer treatment – First published: 24 April 2017
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