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AtualizadoQua, 15 Maio 2024 8pm

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Daichii Sankyo

 

Quimioterapia e segurança ocupacional

Annemeri.jpgAnnemeri Livinalli (foto), da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO),comenta o estudo do National Institute for Occupational Safety and Health sobre manipulação e administração de antineoplásicos.

Artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Hygiene traz os resultados do maior estudo já patrocinado pelo governo federal americano, sobre as práticas de segurança dos profissionais de saúde nos Estados Unidos em relação a produtos químicos perigosos. O estudo abordou 2.100 enfermeiros oncológicos e profissionais de saúde expostos a uma série de agentes quimioterápicos.

Os pesquisadores do National Institute for Occupational Safety and Health(NIOSH) utilizaram dados do levantamento nacional dos trabalhadores da saúde para realizar esse enorme mapeamento. Os resultados reafirmam a importância de evitar potenciais riscos ocupacionais e lembram que os trabalhadores expostos à manipulação de quimioterápicos precisam estar atentos aos procedimentos de segurança e observar as diretrizes recomendadas.

Os achados sugerem que as melhores práticas nem sempre são utilizadas.  Entre os entrevistados, 805 profissionais de saúde relataram não usar sempre dois pares de luvas de quimioterapia, e 15% não usavam nem mesmo um único par. Quarenta e dois% dos trabalhadores admitiram a manipulação de citotóxicos sem estar devidamente paramentados com avental de material não absorvente, com a frente fechada e punhos ajustados. Além disso, 6% relataram problemas na administração intravenosa de drogas antineoplásicas e 4% admitiram o contato com a pele. A pesquisa também revelou que 12% haviam levado para casa roupas potencialmente contaminadas. 

Melhores práticas e recomedações de conduta - Por Annemeri Livinalli

Se a situação nos Estados Unidos desperta preocupação, o que dizer do cenário brasileiro quando o assunto é quimioterapia e segurança ocupacional? 

Há pelo menos três décadas tiveram início as primeiras publicações de diretrizes sobre a segurança no preparo e administração dos medicamentos perigosos, entre eles os citotóxicos, também chamados de quimioterapia. De lá para cá, a educação dos profissionais tem sido prioridade, com o objetivo de conscientizar da grande ameaça que esses medicamentos representam à saúde e da importância do uso correto e adequado do equipamento de proteção coletivo e individual (EPI).

O risco à saúde do profissional envolvido na manipulação de medicamentos perigosos resulta de uma combinação da toxicidade inerente ao medicamento com a exposição do trabalhador no exercício de suas funções. Os estudos sobre essa exposição evoluíram nas últimas décadas e hoje já é possível encontrar trabalhos com biomarcadores de genotoxicidade, incluindo aberrações cromossômicas, que avaliamo a frequência de tais biomarcadores em trabalhadores que lidam com os medicamentos citotóxicos.

Estudo de metanálise que considerou os resultados de 14 pesquisas a respeito da exposição ocupacional aos citotóxicos nos Estados Unidos e Europa,  no período de 1966 a 2004, revelou uma associação entre a exposição aos medicamentos e efeitos adversos no sistema reprodutivo das trabalhadoras que atuavam em serviços de oncologia. Os efeitos mais comuns foram o aborto, má formação congênita, baixo peso ao nascimento, anormalidades congênitas e infertilidade.

Infelizmente, apesar dos dados alarmantes, a pesquisa conduzida pelo National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH)a partir de dados de 2011 apresenta resultados preocupantes. O estudo publicado em novembro de 2014 representa um dos maiores levantamentos de informação sobre profissionais de saúde, e incluiu cerca de 2.100 entrevistados, em sua maioria enfermeiros que atuavam na assistência, administrando quimioterapia por mais de 11 anos.

A informação de que os profissionais não utilizam o equipamento de proteção individual (por exemplo luvas e avental) durante a administração sugere que entre os respondedores a percepção sobre o risco inerente a esses medicamentos está equivocada, pois consideram que durante a administração do medicamento o risco de exposição é mínimo.

Apesar da disponibilidade de longa data de diretrizes sobre o manuseio seguro de medicamentos perigosos, desenvolvidas por autoridades no assunto (ASHP, NIOSH, ONS, OSHA), o estudo publicado pelo NIOSH mostra que há profissionais que assumem uma postura de risco, uma vez que não há nenhuma informação sobre um nível de segurança para exposição aos medicamentos citotóxicos que justifique o pensamento de “risco mínimo” mencionado no parágrafo anterior.

Pouco vale desenvolver diretrizes, oferecer EPIs e educação continuada se o comportamento do ser humano não passar por mudança, e essa mudança depende de cada indivíduo e sua relação com o meio em que vive.

O estudo foi realizado com profissionais enfermeiros, mas serve para fazermos a pergunta, independentemente da nossa profissão: “Como tenho me comportado frente às diretrizes e normas regulamentadoras brasileiras?” Talvez seja o momento de mudar o comportamento.
 
Bibliografia:
George Dranitsaris, Mary Johnston, Susan Poirier, Trudi Schueller, Debbie Milliken, Esther Green and Brent Zanke. Are health care providers who work with cancer drugs at an increased risk for toxic events? A systematic review and meta-analysis of the literature.          J Oncol Pharm Pract2005, 11: 69-78.
James M. Boiano, Andrea L. Steege, Marie H. Sweeney. Adherence to Safe Handling Guidelines by Health Care Workers Who Administer Antineoplastic Drugs. Journal of Occupational and Environmental Hygiene 2014, 11:728-740.

 

 

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