O oncologista Antonio Carlos Buzaid, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, é autor sênior de estudo que integra o programa científico do San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2021), com resultados preliminares da eficácia e segurança do uso de gel de testosterona em baixas doses em pacientes na pré-menopausa com câncer de mama receptor hormonal positivo, de alto risco, tratadas com supressão ovariana em combinação com inibidores da aromatase. O estudo tem como primeira autora a oncologista clínica Patrícia Taranto, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Em consequência dessa combinação terapêutica, efeitos adversos como secura vaginal e perda de libido afetam de maneira significativa a função sexual. O tratamento desses efeitos adversos ainda é bastante desafiador uma vez que, apesar de termos estudos com uso de estrógeno e testosterona intravaginal, não é clara a segurança de reposição hormonal transcutânea em pacientes com câncer de mama. “Em nosso estudo, objetivamos determinar a segurança e eficácia de um gel de testosterona de baixa dosagem administrado por via transcutânea (tópico), particularmente em relação à função sexual”, descreve Patrícia Taranto.
Neste estudo piloto, de centro único, os pesquisadores avaliaram a eficácia de gel de testosterona tópica (3 mg / ml / por dia) na melhora da função sexual em 30 pacientes na pré-menopausa em tratamento com supressão ovariana combinada a um inibidor de aromatase. O endpoint primário foi a avaliação da segurança da reposição avaliada pela mensuração de níveis séricos de estradiol, medido mensalmente por espectrometria de massa de cromatografia líquida (E2), durante os 3 meses consecutivos do tratamento. O principal endpoint de eficácia foi avaliado por meio do questionário validado (Female Sexual Function Index -FSFI) que compreende vários domínios da função sexual, como libido, satisfação sexual e lubrificação vaginal. A pontuação do questionário varia de 2 a 36, sendo 2 a mais baixa e 36 a maior na escala de satisfação sexual. Os pacientes deveriam ter E2 inferior a 2,7 pg/ml antes da inscrição no estudo.
Resultados
No SABCS 2021, Taranto e colegas apresentam resultados preliminares, com as primeiras 20 pacientes. A média de idade foi de 39,3 anos, 85% com doença inicial ou localmente avançada e 15% com doença metastática.
Os autores reportam que 10 pacientes completaram o tratamento de 3 meses proposto pelo protocolo, enquanto cinco ainda estão em terapia. Quatro dos 20 pacientes descontinuaram o tratamento, principalmente por dificuldades logísticas durante as visitas de acompanhamento. Uma paciente apresentou reação alérgica localizada e também descontinuou o tratamento.
Todas as pacientes avaliadas mantiveram o valor de E2 inferior a 2,7 pg/ml durante os 3 meses de tratamento, em todas as 3 medições. “Observamos melhora no FSFI medido ao longo das visitas, com aumento de 10,2 no início do estudo para 19,4 no terceiro mês (P <0,001), com a maior melhora observada entre o segundo e o terceiro meses”, destacam os autores. “Nossos resultados preliminares sugerem que a testosterona tópica parece segura e eficaz na melhora da função sexual em pacientes tratadas com supressão ovariana e inibidor de aromatase. Novos estudos são claramente necessários”, concluem os autores.
Referência: Publication Number: P4-10-05 - Safety and efficacy of low dose topical testosterone for sexual function improvement in women with breast cancer under treatment with ovarian suppression and aromatase inhibitor - Patrícia Taranto1, Diogo de Brito Sales2 , Luciano de Melo Pompei3 , Alessandro Leal1 , Gustavo Schvartsman1 and Antonio Carlos Buzaid4 . 1 Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, Brazil2 Hospital Orium, Goiania, Brazil3 Faculdade de Medicina do ABC, São Paulo, Brazil4 Hospital BP- A Beneficiência Portuguesa de São Paulo, São Paulo, Brazil