A oncologista brasileira Julianne Lima (foto), Clinical Research Fellow do Royal Marsden NHS Foundation Trust, é coautora de estudo destacado em sessão mini-oral no ESMO Congress 2021, com resultados encorajadores da combinação do inibidor de RAF / MEK VS-6766 e do inibidor de FAK defactinib no câncer de ovário seroso de baixo grau. O atual padrão com inibidores de MEK gera SLP de 13 meses contra 7 meses com quimioterapia. Nesse estudo, a SLP foi 23 meses – e em pacientes politratadas”, analisa Julianne.
Pacientes com câncer de ovário seroso de baixo grau (LGSOC, da sigla em inglês) têm resposta limitada à quimioterapia convencional e à terapia hormonal. Nesta análise, os pesquisadores avaliaram o inibidor de RAF / MEK VS-6766, que demonstrou taxa de resposta global (ORR) de 15 a 26%, em combinação com o inibidor de FAK defactinibe nessa população de pacientes. Os principais endpoints foram dados de segurança, farmacocinética e farmacodinâmica.
Os pacientes elegíveis receberam a combinação de VS-6766 na dose de 3,2 mg duas vezes por semana e o inibidor de FAK defactinibe, 200 mg duas vezes ao dia, ambos administrados em ciclos de 28 dias em esquema intermitente. As respostas foram confirmadas usando RECIST 1.1.
Resultados
Os autores reportam que 25 pacientes com LGSOC foram tratados e 24 foram avaliados para resposta, com idade mediana de 57 anos (faixa de 31 a 75 anos) e mediana de 4 linhas de tratamento anterior (intervalo de 1 a 9). Dos 24 pacientes avaliáveis, 11 (46%) tinham mutações KRAS e 10 (42%) receberam tratamento prévio com inibidor de MEK.
A taxa de resposta global em todos os pacientes foi de 46% (11/24, 95% CI: 28% a 65%), com ORR de 64% em pacientes com mutações KRAS e de 44% em pacientes com tumores KRAS selvagem. Quatro pacientes não tinham status do KRAS documentado. As respostas foram observadas em pacientes com e sem tratamento prévio com inibidor de MEK. A sobrevida livre de progressão mediana foi de 23 meses para todos os pacientes da coorte; 13/24 pacientes ainda estão em análise.
“Em tumores com KRAS mutado, a taxa de resposta alcançou 64%”, enfatiza Julianne, que dimensiona a importância dos resultados. “A quimioterapia em primeira linha produz 13% de taxa de resposta e a hormonioterapia, 14%. Neste caso, a taxa de resposta mediana foi 46% e temos pacientes com taxa de resposta de 68%, um avanço que é comparável com o que ocorreu no câncer de mama HER2 positivo”, analisa. “Além disso, o padrão hoje em dia com inibidores de MEK gera SLP de 13 meses contra 7 meses com quimioterapia. Nesse estudo, a SLP foi 23 meses – e em pacientes politratadas”, destaca.
Os eventos adversos mais comuns foram erupção cutânea e elevação de CK, predominantemente de grau 1/2.
“Um esquema de dosagem intermitente da combinação de VS-6766 e defactinibe mostrou atividade clínica encorajadora em pacientes com LGSOC recorrente”, concluem os autores.
Identificação do ensaio clínico: NCT03875820.
Referência: 725 MO - Phase I study of the combination of the dual RAF/MEK inhibitor VS-6766 and the FAK inhibitor defactinib: results of efficacy in low grade serous ovarian câncer - Banerjee et al.