Angélica Nogueira-Rodrigues é autora sênior de estudo selecionado para apresentação em pôster no ESMO 2021 que analisa o impacto da pandemia de COVID-19 em pacientes com câncer de cabeça e pescoço tratados em um serviço público de Belo Horizonte, Minas Gerais. O oncologista Gilson Veloso é o primeiro autor do trabalho.
Desde o início da pandemia COVID-19, mais de 500 mil brasileiros foram a óbito, e seu impacto sobre outras doenças ainda não está totalmente esclarecido. Devido a estratégias de contingência, houve uma redução significativa nos programas de triagem, o que provavelmente afetou os resultados do tratamento do câncer. “Não há dados nacionais atualizados sobre o real impacto no atraso do diagnóstico e do tratamento do câncer no Brasil”, observam os autores.
Esse estudo transversal retrospectivo incluiu pacientes atendidos na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Minas Gerais, entre 2019 e 2020, com uma comparação das características clínicas dos pacientes em ambos os anos.
Foram analisados 207 pacientes com câncer de cabeça e pescoço tratados na instituição (85 pacientes em 2019 e 122 pacientes em 2020), estratificados por estágio clínico (CS), tamanho do tumor, status linfonodal (LNS), ocorrência de doença metastática (MD), índice de massa corporal (IMC), necessidade de nutrição enteral, idade, performance status (PS) e indicação de cuidados paliativos exclusivos. Os grupos foram comparados usando o teste t-Student e o teste qui-quadrado com um nível de significância de 5%.
Resultados
Os resultados demonstraram uma diferença estatisticamente significativa no tamanho do tumor (p 0,024); em 2019, 50,6% dos tumores foram classificados como T4 em comparação com 66,4% em 2020. Os dados não mostraram diferença estatisticamente significativa entre os grupos em relação a idade (mediana de 56 anos em 2019 e 58,5 anos em 2020; p 0,056), IMC (47% tinham um IMC abaixo 20 em cada grupo, p 0,595), necessidade de nutrição enteral (54,1% em 2019 e 59,8% em 2020, p 0,254), estágio clínico (75,3% tinha doença estágio IV em 2019 e 81,1% em 2020, p 0,486), status linfonodal (42% foram N2 em 2019 e 38,5% em 2020, p 0,243), doença metastática (9,4% em 2019 e 13,9% em 2020, p 0,326), performance status (59% tinha PS 1 em 2019 e 45% em 2020, p 0,061) e indicação de cuidados paliativos exclusivos (4,7% em 2019 e 10,7% em 2020, p 0,125).
“O real impacto da pandemia de COVID-19 no tratamento do câncer ainda está para ser melhor esclarecido, mas nossos resultados de 2020 indicam uma tendência de tamanho do tumor primário avançado no momento do diagnóstico do câncer”, concluíram os autores.
Referência: 1581P Impact of the COVID-19 pandemic on patients with head and neck cancer assisted in a public cancer center in Brazil - G.G. Viana Veloso, A. Nogueira Rodrigues