Em homens com câncer de próstata metastático resistente à castração que progrediram a docetaxel, LuPSMA é uma alternativa promissora a cabazitaxel, com atividade significativamente maior na redução do PSA≥50%, benefício na sobrevida livre de progressão (19% vs 3%) e na taxa de resposta objetiva (49% vs 24%). Os dados são do ensaio ANZUP 1603, apresentado em sessão oral, com publicação simultânea no The Lancet. Este é o primeiro estudo randomizado a comparar Lu-PSMA à quimioterapia padrão cabazitaxel nessa população de pacientes.
Michael Hofman (foto), do Peter MacCallum Cancer Center, apresentou os resultados como um novo marco no cenário da doença avançada. “Temos evidências convincentes de que Lu-PSMA representa uma nova classe de terapia eficaz para homens com câncer de próstata avançado”, declarou.
LuPSMA é uma pequena molécula radiomarcada que se liga com alta afinidade ao antígeno de membrana específico da próstata (PSMA), possibilitando a entrega direcionada de radiação β terapêutica em tumores que expressam PSMA.
O estudo inscreveu pacientes com mCRPC que progrediram após tratamento com docetaxel, com alta expressão de PSMA e nenhum local de doença FDG positivo /PSMA negativo no mapeamento de imagem (68Ga-PSMA-11 e 18F-FDG PET/CT). 200 homens com mCRPC (idade média de 72 anos, 91% com enza / abi anterior cumpriram os critérios e foram randomizados (1: 1) para LuPSMA (6-8GBq q6semanas até 6 ciclos, N=99) versus cabazitaxel (20mg/m2 q3semanas até 10 ciclos, N-101); estratificados pela carga da doença (> 20 vs ≤20 locais), exposição a novos antiandrogênios (abiraterona ou enzalutamida) e local do estudo. O endpoint primário foi a taxa de resposta do PSA50, definida por redução do PSA ≥50%. Endpoints secundários de eficácia incluíram sobrevida livre de progressão de PSA (SLP-PSA) e de progressão radiográfica (rSLP), resposta à dor (≥2 pontos de redução na escala de intensidade de dor de McGill-Melzack), taxa de resposta objetiva (ORR, RECIST 1.1), eventos adversos e sobrevida global (SG).
Inicialmente, um PET scan é usado para 'mapear' o tumor, através da injeção do radiotraçador gálio-68, que rapidamente se liga a uma pequena molécula localizada no antígeno de membrana específico da próstata na superfície das células tumorais. Assim, as células tumorais 'iluminadas' mostram a localização da doença e permitem identificar pacientes que podem se beneficiar desta nova abordagem terapêutica.
A segunda parte é a própria terapia: o radionuclídeo Lu-177 é anexado a uma molécula semelhante à usada no processo de varredura e o Lu-PSMA é administrado ao paciente.
No simpósio ASCO GU 2021 foram atualizados os dados de eficácia e segurança.
Resultados
Em um acompanhamento médio de 18,4 meses, a SLP foi significativamente superior no grupo Lu-PSMA em relação ao grupo tratado com capazitaxel. Em um ano, a taxa de SLP foi de 19% [95 % CI 12-27%] vs 3% [1-9%], HR= 0,63; p = 0,003; 173 eventos). Benefício semelhante foi observado para rSLP (HR= 0,64, 95 % CI 0,46-0,88; p = 0,007; 160 eventos) e SLP-PSA (HR= 0,60 IC 95% 0,44-0,83; p = 0,002; 172 eventos).
A ORR em 78 homens com doença mensurável foi significativamente maior no braço LuPSMA ( 49% vs 24%, RR 2,1, IC 95% 1,1-4,1; p = 0,019). Em 90 homens com dor no início do estudo, as respostas à dor ocorreram em 60% no braço Lu-PSMA vs 43% para cabazitaxel (HR 1,42, IC 95% 0,84-4,48; p = 0,10).
O status de saúde global reportado pelos próprios pacientes também corrobora o benefício de Lu PSMA sobre cabazitaxel em todos os domínios avaliados, com resultados significativamente melhores para fadiga (34 [IC95% 31-37] vs 40 [36-43]), funcionamento social (79 [ 76-82] vs 73 [69-77]), domínios de insônia (24 [20-27] vs 29 [25-33]) e diarreia (8,3 [5,6-11,0] vs 15,6 [12,6-18,6]).
Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos foram semelhantes aos relatados anteriormente (33% vs 53%). Os dados de SG permanecem imaturos.
“Em homens com mCRPC tratados com docetaxel, LuPSMA é uma alternativa promissora ao cabazitaxel, com atividade significativamente maior na redução do PSA≥50%, no benefício de sobrevida livre de progressão e taxa de resposta objetiva”, concluem os autores, destacando que o estudo ainda mostrou menor frequência de eventos adversos 3-4 e foi bem avaliado nos domínios reportados pelos pacientes.
“Usar a mesma molécula tanto para a varredura do câncer quanto para o tratamento permite um atendimento personalizado e centrado no paciente, onde homens com maior probabilidade de se beneficiar podem ser cuidadosamente selecionados”, disse Hofman.
O estudo "TheraP" (ANZUP 1603) é conduzido pelo Grupo de Ensaios de Câncer de Próstata e Urogenital da Austrália e Nova Zelândia (ANZUP).
Clinical trial information: NCT03392428.
Referência: 177Lu-PSMA-617 (LuPSMA) versus cabazitaxel in metastatic castration-resistant prostate cancer (mCRPC) progressing after docetaxel: Updated results including progression-free survival (PFS) and patient-reported outcomes (PROs) (TheraP ANZUP 1603). - Michael S. Hofman et al. - J Clin Oncol 39, 2021 (suppl 6; abstr 6) - DOI: 10.1200/JCO.2021.39.6_suppl.6
Hofman, MS. [177Lu]Lu-PSMA-617 versus cabazitaxel in patients with metastatic castration-resistant prostate cancer (TheraP): a randomised, open-label, phase 2 trial. The Lancet Oncology, Published:February 11, 2021, DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)00237-3