A terapia de manutenção com capecitabina prolonga a sobrevida livre de progressão de pacientes com carcinoma nasofaríngeo (NPC) metastático recém-diagnosticado, em comparação com os melhores cuidados de suporte (BSC). É o que apontam resultados de estudo chinês que integra o programa científico do ASCO 2021. O oncologista Thiago Bueno de Oliveira (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, analisa os resultados.
Neste ensaio de fase III, aberto, randomizado e controlado por placebo, foram elegíveis pacientes entre 18-65 anos de idade com NPC metastático recém-diagnosticado no Sun Yat-Sun University Cancer Center (SYSUCC), com doença controlada após 4 a 6 ciclos de quimioterapia de indução. Os pacientes foram randomizados 1: 1 para manutenção com capecitabina (oral 1.250 mg / m2 / dia nos dias 1-14 a cada 21 dias) por até 24 meses com BSC ou BSC sozinho.
O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). Endpoints secundários incluíram sobrevida global, duração de resposta, taxa de resposta objetiva e efeitos adversos. As análises foram feitas por intenção de tratar.
Resultados
Entre 16 de maio de 2015 e 9 de janeiro de 2020, foram elegíveis 104 pacientes, randomizados para manutenção com capecitabina mais BSC (n = 52) ou BSC sozinho (n = 52). Após acompanhamento pela mediana de 33,1 meses (IQR, 21,5-50,7 meses), a SLP mediana foi de 35,2 meses no grupo de manutenção de capecitabina e de 9,1 meses no grupo de BSC (HR: 0,426; IC 95%: 0,248-0,731, P = 0,001).
Os eventos adversos mais comuns de grau 3 ou 4 durante a terapia de manutenção foram síndrome mão-pé (10,0%), náuseas / vômitos (6,0%), fadiga (4,0%) e mucosite (4,0%). Um total de 37 mortes ocorreram durante o acompanhamento, 14 (26,9%) no grupo de manutenção com capecitabina e 23 (44,2%) no grupo BSC. Os dados de sobrevida global estavam imaturos, apesar de uma aparente menor mortalidade no grupo experimental. Nenhuma morte no grupo de manutenção de capecitabina foi considerada relacionada ao tratamento. “Chama a atenção a dose relativamente baixa de capecitabina utilizada no estudo, de acordo com o resumo de 1250 mg/m2/dia, o que pode explicar a baixa incidência de eventos adversos”, observa Bueno.
“A manutenção com capecitabina melhorou significativamente a SLP em pacientes com NPC metastático recém-diagnosticado que alcançaram o controle da doença após a quimioterapia de indução em comparação com BSC. A toxicidade foi de baixo grau e administrável”, afirmam os autores.
Segundo Bueno, baseado nestes resultados o uso de capecitabina de manutenção pode ser considerado em pacientes com carcinoma de nasofaringe metastático com doença controlada após quimioterapia inicial com doublet de platina associada a gemcitabina ou taxanos por 4 a 6 ciclos, especialmente em pacientes que persistem com doença em atividade, com alto volume ou sintomática e histologia EBV relacionada. “Deve pesar nessa decisão a ausência de dados de sobrevida global, tratar-se de uma população oriental com predominância de tumores tipo III EBV relacionados com potencial influência da farmacogenômica populacional nestes resultados, e não haver informações sobre tratamento subsequentes, especialmente no grupo controle. Além disso, deve ser debatido como encaixar esta terapia em meio a estratégias comumente utilizadas na prática clínica, como a manutenção de gemcitabina isoladamente após 4 a 6 ciclos de combinação com platina, ou o uso de radioterapia do tumor primário”, conclui o oncologista.
Informações do ensaio clínico: NCT02460419.
Referência: Abstract 6044 - Capecitabine maintenance therapy after induction chemotherapy in newly diagnosed metastatic nasopharyngeal carcinoma: An open-label, randomized, controlled, phase Ⅲ trial. - J Clin Oncol 39, 2021 (suppl 15; abstr 6044) - DOI 10.1200/JCO.2021.39.15_suppl.6044
