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ASCO 2021

JUPITER-02: imunoterapia no tratamento de primeira linha do carcinoma de nasofaringe avançado

Aline Chaves NET OKSelecionado para apresentação em Sessão Plenária do ASCO 2021, o estudo JUPITER-021 (LBA2) demonstrou que a adição da imunoterapia toripalimab à quimioterapia padrão na primeira linha de tratamento do carcinoma nasofaríngeo recorrente ou metastático prolongou a sobrevida livre de progressão em comparação com placebo, com uma mediana de 11,7 vs 8 meses, respectivamente. A oncologista Aline Lauda Chaves (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP) e médica da DOM Oncologia, comenta os resultados.

O carcinoma de nasofaringe representa um problema de saúde global significativo. A doença é particularmente prevalente no Leste e Sudeste Asiático, responsável por mais de 70% dos 129 mil novos diagnósticos em todo o mundo em 2018.2,3 Atualmente, a quimioterapia com gemcitabina-cisplatina (GP) é o tratamento padrão de primeira linha para carcinoma de nasofaringe localmente avançado, recorrente ou metastático. No entanto, a duração da resposta, em média, é inferior a seis meses.4

No estudo POLARIS-02, o anticorpo monoclonal anti-PD-1 toripalimab demonstrou respostas duráveis ​​em pacientes como monoterapia no tratamento de segunda linha ou superior do carcinoma nasofaríngeo recorrente/metastático5. Agora, o estudo randomizado, duplo-cego, placebo-controle, de fase III JUPITER-02 (NCT03581786) avaliou a eficácia e segurança de toripalimab em combinação com quimioterapia (gencitabina-cisplatina) como tratamento de primeira linha para essa população de pacientes.

Os pacientes com carcinoma de nasofaringe avançado sem quimioterapia prévia no cenário recorrente /metastático foram randomizados (1: 1) para receber toripalimab 240 mg ou placebo no dia 1 em combinação com gencitabina 1000 mg/m2 nos dias 1 e 8, e cisplatina 80 mg/m2 no dia 1 a cada 3 semanas (Q3W) por até 6 ciclos, seguido por monoterapia com toripalimab ou placebo Q3W até a progressão da doença, toxicidade inaceitável ou conclusão de 2 anos de tratamento.

Os fatores de estratificação foram ECOG PS (0 vs.1) e extensão da doença (recorrente vs primária metastática) no momento da inscrição. A sobrevida livre de progressão (SLP) e a resposta foram avaliadas por um Comitê de Revisão Independente (IRC) de acordo com RECIST v1.1. O endpoint primário foi SLP por IRC na população intent-to-treat (ITT). Os desfechos secundários incluíram taxa de resposta global (ORR), duração de resposta (DOR) e sobrevida global (SG).

Resultados

Foram randomizados 289 pacientes: 146 no braço de toripalimab e 143 no braço placebo. Com cutoff da análise interina em 30 de maio de 2020, a mediana de duração do tratamento foi de 39 semanas no braço de toripalimab e 36 semanas no braço placebo. Uma melhora significativa na SLP foi observada no grupo de pacientes que recebeu a imunoterapia em comparação com o braço placebo (HR = 0,52 [95% CI: 0,36-0,74] two-sided p = 0,0003), com mediana de SLP de 11,7 vs. 8,0 meses. Em 1 ano, 49% dos pacientes que receberam toripalimab não apresentaram progressão da doença, em comparação com 28% daqueles que receberam placebo.

Uma melhoria na SLP foi observada em subgrupos relevantes, incluindo todos os subgrupos PD-L1. A ORR foi de 77,4% vs. 66,4% (P = 0,033) e a mediana de DOR foi de 10,0 vs. 5,7 meses (HR = 0,50 [95% CI: 0,33-0,78]). Em 15 de janeiro de 2021, os dados de sobrevida global estavam imaturos, com 25 mortes no braço toripalimab e 35 no braço placebo (HR = 0,68 [95% CI: 0,41-1,14], P = 0,14).

Eventos adversos graves (AEs) de grau 3 ou superior foram semelhantes para ambos os grupos - 89,0% para toripalimabe versus 89,5% para placebo, com descontinuação do tratamento em 7,5% dos pacientes com imunoterapia, em comparação com 4,9% que tomaram placebo. AEs fatais foram semelhantes entre os dois braços, 2,7% e 2,8%, respectivamente.

AEs relacionados com o sistema imunológico foram mais comuns com toripalimab, 39,7%, em comparação com o placebo, 18,9%. EAs relacionados ao sistema imunológico de grau 3 ou superior também foram mais comuns com toripalimabe (7,5%) do que com placebo (0,7%).

“A resposta estendida em pacientes que receberam toripalimab marca um avanço significativo para o tratamento desta doença, e apoia o uso de toripalimab com quimioterapia GP como o novo tratamento padrão para essa população”, avalia Rui-hua Xu, oncologista do Sun Yat-sen University Cancer Center, em Guangzhou, China, e principal autor do trabalho. 

Aline ressalta que no Brasil, assim como em vários outros países, a maioria dos pacientes com carcinoma de nasofaringe são diagnosticados em fase avançada (estadio III e IV). “Apesar de ser uma doença rara no nosso meio, atingindo uma população relativamente jovem, é uma neoplasia cujo tratamento é desafiador, sendo o tratamento sistêmico fundamental desde os estádios iniciais”, observa.

“A inclusão da imunoterapia na doença recidivada ou metastática segue a linha dos demais carcinomas epidermoide de cabeça e pescoço que já tem bem definido o seu nicho de aplicação, com benefícios reais nos resultados. Na nasofaringe, importante aguardarmos os dados maduros de sobrevida global e qualidade de vida para incorporarmos na nossa prática clínica”, conclui a especialista.

Referências: 

1 - Abstract LBA2 - JUPITER-02: Randomized, double-blind, phase 3 study of toripalimab or placebo plus gemcitabine and cisplatin as first-line treatment for recurrent or metastatic nasopharyngeal carcinoma (NPC). - Rui-hua Xu

2 - 1. Bray F, Ferlay J, Soerjomataram I, et al: Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin 68:394-424, 2018.

3 - Chen YP, Chan ATC, Le QT, et al: Nasopharyngeal carcinoma. Lancet 394:64-80, 2019.

4 - Zhang L, Huang Y, Hong S, et al: Gemcitabine plus cisplatin versus fluorouracil plus cisplatin in recurrent or metastatic nasopharyngeal carcinoma: a multicentre, randomised, open-label, phase 3 trial. Lancet 388:1883-1892, 2016.

5 - Wang FH, Wei XL, Feng J, Li Q, Xu N, Hu XC, Liao W, Jiang Y, Lin XY, Zhang QY, Yuan XL, Huang HX, Chen Y, Dai GH, Shi JH, Shen L, Yang SJ, Shu YQ, Liu YP, Wang W, Wu H, Feng H, Yao S, Xu RH. Efficacy, Safety, and Correlative Biomarkers of Toripalimab in Previously Treated Recurrent or Metastatic Nasopharyngeal Carcinoma: A Phase II Clinical Trial (POLARIS-02). J Clin Oncol. 2021 Mar 1;39(7):704-712. doi: 10.1200/JCO.20.02712. Epub 2021 Jan 25. PMID: 33492986; PMCID: PMC8078488.

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