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2021

Inibidor da bomba de prótons e resposta patológica no câncer retal

marcelle cescaEstudo com participação brasileira, promovido pela Sociedade Latino Americana de Oncologia Gastrointestinal (SLAGO), avaliou a influência da utilização de inibidor da bomba de prótons na resposta patológica do câncer retal. A oncologista Marcelle Goldner Cesca (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, é primeira autora do trabalho. 

O uso de inibidores da bomba de prótons (PPIs, da sigla em inglês) tem sido associado a resultados oncológicos inferiores em cânceres de mama, gástrico e colorretal. “Tais descobertas são supostamente devido a uma interação farmacocinética entre PPIs e capecitabina, onde um aumento do pH gástrico induzido por PPI leva à redução da absorção de capecitabina. Nosso objetivo foi investigar se essa interação pode influenciar a resposta à quimiorradiação com capecitabina como substituto do 5FU”, expõem os autores.

Nesta análise, foram avaliados retrospectivamente todos os pacientes com lesões retais localizadas de adenocarcinoma tratados nos centros membros do SLAGO com quimiorradiação com intenção curativa com capecitabina, seguida de cirurgia. Pacientes que receberam quimioterapia sistêmica incluindo capecitabina antes da cirurgia também foram inscritos (ou seja, terapia neoadjuvante total [TNT]). Os endpoints primários foram resposta patológica completa (pCR) ou respostas patológicas parciais (pPR), definidas pelo sistema de estadiamento AJCC. O uso de PPI foi definido como qualquer utilização concomitante à capecitabina. O teste do qui-quadrado foi usado para comparar variáveis ​​binárias. A regressão logística foi usada para análise multivariada.

Resultados

Os autores descrevem que de abril de 2009 a agosto de 2020, 184 pacientes foram incluídos, com  idade mediana ao diagnóstico de 57 anos; a maioria homens (58,2%), com status de desempenho ECOG 1 (65,8%) e presença de comorbidades (61,4%). Os tumores retais eram predominantemente estágio III (77,7%), moderadamente diferenciados (65,8%), com localização distal (53,3%). Dessa população, 12,5% foram tratados com quimioterapia neoadjuvante total. Apenas 35 pacientes (19%) usaram PPI durante a terapia neoadjuvante: 82,6% PPI de primeira geração; 86,4% usando PPI por> 50% do tempo de tratamento (PPI> 50). As taxas de pCR e pPR foram de 20,7% e 55,4%, respectivamente. O uso de PPI foi associado numericamente, mas não estatisticamente a taxas de pCR e pPR significativas e melhoradas (25,7% vs 19,5%, p= 0,48; e 82,9% vs 74,5%, p = 0,38). As diferenças em pCR / pPR foram maiores na população não TNT: 84,4% para o grupo PPI vs 71,1% para o não PPI (p = 0,12); e 87% para a população PPI> 50 vs 71,7% (p = 0,12). Apenas a resposta clínica foi associada com melhor pCR e pCR / pPR na análise multivariada. Na população não TNT, o estudo da SLAGO mostra uma tendência de PPI> 50 associado a melhor pCR / pPR (p = 0,088).

“Em conclusão, a utilização de PPI concomitante à capecitabina não influenciou a resposta patológica nesta coorte de pacientes com câncer retal. No entanto, o intrigante é que sugeriu taxas de resposta numericamente superiores no grupo PPI e tendência para melhor pCR /pPR com uso de PPI> 50% na terapia neoadjuvante”, destacam os autores, que sugerem mais estudos para esclarecer se inibidores de bomba de prótons são realmente deletérios ou se, na realidade, potencializam o efeito da capecitabina no tratamento neoadjuvante do câncer retal.

Referência: P-197 The influence of proton pump inhibitor utilization on the pathological response of rectal cancer: A multicenter study by the Sociedad Latino Americana de Oncologia Gastrointestinal (SLAGO)

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