Felipe Fernandez Coimbra (foto), cirurgião oncológico do AC Camargo Cancer Center, é autor sênior de estudo aceito no ESMO GI na sessão de pôster, que descreve em números análises de sobrevida e fatores prognósticos de pacientes brasileiros com tumores neuroendócrinos pancreáticos (PNETs).
Os PNETs constituem uma forma heterogênea da doença, tanto na apresentação clínica como nos resultados de sobrevida. Como a incidência e a taxa de diagnóstico parecem estar aumentando em todo o mundo, a avaliação de fatores prognósticos torna-se ainda mais importante no processo de tomada de decisão. Muitas séries têm se concentrado em descrever análises de sobrevida ao longo do tempo, mas nenhuma na população brasileira.
Nesta série de casos retrospectiva de um único centro foram avaliados 129 pacientes consecutivos submetidos à ressecção curativa de 1999 a 2020. Pacientes com doença metastática foram excluídos.
Resultados
A maioria dos pacientes era do sexo feminino (55%), com mediana de idade ao diagnóstico de 54 anos e Índice de Comorbidade de Charlson (ICC) de 3 (IQR 2-4). A maioria dos pacientes era assintomática e dor abdominal foi o sintoma mais comum, apresentado em 19,38%; apenas 7 pacientes apresentavam tumores funcionais. Felipe Coimbra e colegas descrevem que a tomografia computadorizada foi a ferramenta mais usada no diagnóstico e estadiamento e 20% de toda a coorte teve uma varredura de 68-Gálio antes da cirurgia. Tumores no corpo e cauda da glândula foram mais frequentes e a cirurgia minimamente invasiva foi realizada em 54,26% dos pacientes. O procedimento cirúrgico mais comum foi pancreatectomia distal com esplenectomia (58%), seguida de pancreaticoduodenectomia com preservação do piloro (17,8%), e gastroduodenopancreatectomia (6,9%). Procedimentos de preservação do parênquima foram usados em 8 casos. O tempo médio de internação foi de 8 dias.
O estudo brasileiro reporta que complicações de Clavien-Dindo graus III e IV ocorreram em 29,9% dos casos e a mortalidade pós-operatória foi de 1,5%. A fístula pancreática ocorreu em 34%, a maioria vazamento bioquímico (53%). Com um tempo médio de acompanhamento de 46,3 meses (95% IC -36,8-57,3 meses), a sobrevida global (SG) foi de 95,5% em 3 anos (IC 95% 89,4% e 98,1%) e de 92,5% em 5 anos (IC95% 84,5% e 96,5%). A sobrevida livre de doença (SLD) em 3 anos foi de 87,3% (IC 95% 79,0% - 92,5%) e de 74,8% em 5 anos (IC 95% 63,3% - 83,1%).
Linfonodos positivos (LN) (HR 5,47; IC 95% 2,46 e 12,16), tamanho de 2,0 cm ou maior (HR 3,43; 95% 1,17 e 10,00), G1 PNET (HR 0,14; IC 95% 0,04 e 0,47) e Ki 67 de 3 a 20 (HR 2,96; 95% 1,20 e 7,33) foram associados a pior SLD na análise univariada.
Na análise multivariada, apenas LN positivo (HR 3,48; IC 95% 1,5 e 8,11) foi associado com menor SLD enquanto G1 PNET bem diferenciado (HR 0,18; IC 95% 0,05 e 0,62) foi associado a um melhor resultado.
“A ressecção cirúrgica representa o padrão de atendimento para pNETS, com abordagem minimamente invasiva viável na maioria dos casos e complicações pós-operatórias compatíveis com a literatura. LN positivo, tamanho maior que 2 cm, grau do tumor e KI-67 de 3-20 estão associados a pior sobrevida livre de doença”, concluem os autores.
Referência: P-215 Outcomes following surgery for resectable pancreatic neuroendocrine tumors: A Brazilian single institutional experience D. Arra, J. Menezes, G. Henklain, E. Fachin, H. de Castro Ribeiro, W. Costa, Jr., A. Godoy, S. Torres, I. Farias, N. Marques, A. Diniz, F. Fernandez Coimbra AC Camargo Cancer Center, São Paulo, Brazil