Alessandra Menezes Morelle (foto), oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, é primeira autora de estudo aceito no programa científico do SABCS2020, que aponta a insônia como o sintoma mais preocupante durante o tratamento do câncer de mama. Os resultados da análise refletem uma coorte brasileira, a partir de dados do Tummi App, um sistema de monitoramento e gerenciamento de sintomas.

Lançado como um aplicativo móvel gratuito em agosto de 2018, o aplicativo Tummi explorou resultados reportados pelos pacientes (PRO, de patient-reported outcomes) para avaliar 28 sintomas com base nos critérios de terminologia para eventos adversos do National Cancer Institute. Os sintomas são relatados em uma escala de 3 pontos (leve, moderado, grave) e o paciente reporta uma escala de bem-estar geral representada por emojis. O aplicativo ainda tem a capacidade de gravar sintomas e resumir o relatório em impressão física, além de armazenar e analisar automaticamente os sintomas, inclusive apresentados graficamente. “O aplicativo Tummi acompanha as toxicidades de pacientes com câncer durante sua jornada de tratamento”, esclarece Alessandra. 

Os autores argumentam que PRO já demonstraram impacto na melhoria da comunicação com os pacientes e de controlar seus sintomas, lembrando que dados já publicados sugerem impacto positivo na sobrevida quando há participação ativa do paciente no relato dos sintomas. “No entanto, os dados PRO não são comumente coletados no tratamento de rotina do câncer devido a desafios como custo e devido à tecnologia obsoleta de muitos registros eletrônicos de saúde existentes”, justificam. 

Resultados

Desde agosto de 2018, 281 pacientes com diagnóstico de câncer de mama invasivo baixaram o aplicativo durante o tratamento e aprovaram a solução.

O efeito colateral mais comum registrado foi dor nas costas. No entanto, ao avaliar os sintomas mais intensos relatados por pacientes (grau 3), a insônia aparece como a mais lembrada, seguida da cefaleia. Em relação aos relatórios de bem-estar geral, os pacientes totalizaram 4501 registros. Destes, em 62,40% das vezes os pacientes estavam bem, enquanto em 33,16% estavam na média e em 4,44% se sentiam mal.

“Neste grupo de pacientes avaliados pelo Tummi App, a insônia aparece como o sintoma mais preocupante. Embora apareça na literatura como bastante prevalente neste cenário, vemos que sua abordagem no dia a dia da clínica oncológica está longe do ideal. Acreditamos que o monitoramento por uma ferramenta PRO pode levar a um maior esforço para melhorar este sintoma que tanto repercute na qualidade de vida de nossos pacientes”, destaca o estudo brasileiro.

“Estes resultados refletem a vida real de pacientes que usam o app de forma orgânica e nos chamou atenção para a necessidade de alertar a comunidade médica sobre um sintoma que certamente afeta a qualidade de vida destas pacientes. É importante que as equipes de saúde possam estabelecer programas de apoio, identificando formas de ajudar nossas pacientes no que elas realmente precisam para viver melhor e não apenas focar no tratamento específico do câncer”, conclui Alessandra.