O uso do PET/CT marcado com Fluciclovina (Axumin) no tratamento de resgate com radioterapia no câncer de próstata recidivado pode melhorar as taxas de sobrevida livre de falha. É o que apontam os resultados de estudo selecionado como primeiro Late Breaking Abstract apresentado na plenária do congresso anual da ASTRO, a Sociedade Americana de Radioterapia. Bernardo Salvajoli (foto), médico especialista em radioterapia, comenta os resultados.
Técnicas de imagem convencionais, como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (MRI) são normalmente usadas para orientar o planejamento de radioterapia e amparar decisões de tratamento no câncer de próstata. Neste estudo de Fase II / III (EMPIRE-1) os pesquisadores incluíram pacientes com câncer de próstata com PSA detectável pós-prostatectomia, tratados de 2012 a 2019, para avaliar os desfechos oncológicos no planejamento da radioterapia (RT) por técnicas de imagem convencionais (IC) versus PET com fluciclovina.
Os pacientes elegíveis foram estratificados por (a) PSA (<2,0 v ≥2,0 ng / mL), (b) patologia [extensão extracapsular (EEC), + vesícula seminal (VS), + margem, + linfonodo] (presente v ausente), e (c) uso de ADT, randomizados para RT dirigido por IC (Braço 1) versus IC + PET (Braço 2). No Braço 2, as decisões de RT foram rigidamente determinadas por PET: (A) captação extra-pélvica (sem RT); (B) captação pélvica (RT para a pelve {45,0-50,4 Gy} + leito da próstata [PB]
{64,8-70,2 Gy}); (C) captação apenas de PB (RT para PB); e (D) sem absorção (RT para PB). Curvas de Kaplan-Meier foram geradas 4 anos após o término do XRT e comparadas com o braço controle usando o teste de logrank. As taxas de falha em 3 anos (endpoint primário do estudo) e em 4 anos foram comparadas usando o teste Z. Endpoints secundários incluíram toxicidades (aguda e tardia, GI e GU).
Um total de 165 pacientes cumpriram os critérios de inclusão. Após três anos, o estudo mostrou que os pacientes tratados com base em imagens PET tiveram resultados superiores, com maior taxa de sobrevida livre de falha (p = 0,003), que persistiu por quatro anos (51% para aqueles no braço convencional, contra 75,5% no braço de imagem avançada, p <0,001). Não houve diferenças significativas nos efeitos colaterais geniturinários ou gastrointestinais graves entre os dois braços.
Em conclusão, entre os pacientes com recorrência bioquímica da doença após prostatectomia radical, 75,5% dos que tiveram acompanhamento por PET estavam livres da doença após três anos, em comparação com 63% dos que foram acompanhados por técnicas de imagem convencionais no planejamento terapêutico. O aumento da taxa de sobrevida persistiu por até quatro anos.
“A decisão de oferecer radioterapia pós-prostatectomia é complexa e imagens convencionais podem deixar perguntas sem resposta sobre a melhor abordagem para o planejamento do tratamento”, disse Ashesh B. Jani, professor de radioterapia no Winship Cancer Institute da Emory University, em Atlanta, principal investigador do estudo. “O que nossa pesquisa identificou é que integrar a imagem molecular ao processo de planejamento terapêutico nos permite fazer um trabalho melhor na seleção de pacientes, orientando com mais precisão as decisões de planejamento e tratamento de radioterapia e aumentando o controle da doença”, analisou.
Salvajoli ressalta que este é o primeiro trabalho a trazer desfecho clínico além dos radiológicos do PET, mostrando importante redução de falha em 3 e 4 anos ( 63 vs 75.5% e 51.2% vs 75.5% respectivamente, com p significativo). “Além disso, também mostra, assim como outros estudos, que a utilização do PET na recorrência bioquímica faz com que haja mudanças no tratamento da radioterapia, incluindo áreas que não seriam tratadas, e algumas vezes até mudando de radioterapia para tratamento sistêmico”, esclarece.
O especialista observa que houve 35.7% de mudança no planejamento da radioterapia nos pacientes submetidos ao PET. “Vale lembrar que é um estudo de fase III, porém de centro único e utilizando um radiofármaco que sabemos ser menos sensível e específico que o Ga68-PSMA. Baseado nisso, novos estudos serão feitos, inclusive o EMPIRE 2, randomizando entre estes radiofármacos”, diz.
“Não tenho dúvidas de que estes exames serão incorporados na prática clínica conforme sua disponibilidade e confirmação da sua importância em desfechos clínicos em novos estudos”, conclui.
O ensaio Emory Molecular Prostate Imaging for Radiotherapy Enhancement (ou EMPIRE-1) está registrado na plataforma Clinical Trials.gov: NCT01666808.
Referência: LBA1 - Initial report of a randomized trial comparing conventional - vs conventional plus fluciclovine (18F) PET/CT imaging-guided post-prostatectomy radiotherapy for prostate cancer - Scientific session: Plenary Session, Monday, October 26, 1:15 – 2:15 p.m.