Em 2016, a análise primária do estudo MINDACT confirmou o valor do perfil genômico para pacientes com câncer de mama em estágio inicial que poderiam com segurança abandonar a quimioterapia sem comprometer o resultado. Agora, dados de longo prazo da assinatura de 70 genes (MammaPrint) foram destacados no 2020 ASCO Virtual Scientific Program, em apresentação de Fátima Cardoso, do Champalimaud Cancer Clinical, em Lisboa.
“Essa atualização demonstra que mesmo tendo aumentado o follow up para 8,7 anos, o que geralmente tem um significado mais enfático para pacientes luminais que tendem a recorrer da doença mais tardiamente, a previsibilidade se manteve estável, com um delta que foi de 1,5% para 2,6%, ou seja, uma variabilidade ainda pequena, comprovando a confiabilidade do resultado e do estudo a longo prazo” analisa Silvio Bromberg, mastologista do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e da BP Mirante.
Neste estudo prospectivo de Fase III foram incluídos 6693 pacientes entre 2007-2011. O principal endpoint foi a taxa de sobrevida livre de metástase à distância (DMFS) em 5 anos em pacientes com alto risco clínico e baixo risco genômico (C-High/G-Low), randomizados para não receber quimioterapia adjuvante (N=644). Endpoints secundários incluíram taxa de DMFS e sobrevida global em 5 anos na análise por intenção de tratar (ITT) no grupo C-High/G-Low, que foi randomizado para receber (n = 749) ou não (748) quimioterapia adjuvante.
Resultados já reportados por Cardoso et al (NEJM 2016) mostraram que em 5 anos a taxa de DMFS foi de 94,7% (IC95%: 95,5-96,2) em pacientes com alto risco clínico e baixo risco genômico (C-High/G-Low) que não receberam quimioterapia adjuvante (QTA). Na análise apresentada na edição virtual do ASCO 2020, após seguimento médio de 8,7 anos, a taxa atualizada de DMFS foi de 95,1% (IC 95% 93,1-96,6). Dados atualizados por intenção de tratar (ITT) em pacientes com C-High / G-Low são descritos abaixo (TABELA I).
“Esse estudo enfatiza o importante papel de de-escalonamento do tratamento exercido pelo MINDACT. No entanto, quando demonstrado o benefício da quimioterapia nesse grupo separado conforme a idade, houve diferenças”, observa Bromberg. “Ficou evidente que a omissão de quimioterapia para pacientes (C-High/G-Low), na pós menopausa continuou a ser segura nesse período (ganho no DMFS de 0,2% +/- 2,3%). Porém, no grupo de pacientes C-High/G-Low, na pré menopausa o efeito da quimioterapia ou eventualmente da ablação ovariana induzida foi relevante (DMFS de 5% +/- 2,8% ), ou seja, para pacientes na pré-menopausa com esse perfil, abrir mão da quimio ou discutir a ablação se torna relevante”, avalia.
O especialista acrescenta que ao comparar seu estudo com o TAYLOR X, a autora enfatizou que o trabalho representa muito melhor o grupo de pacientes considerado como alto risco clínico. “Apesar de mostrar em sua indicação uma segurança a longo prazo, o estudo coloca agora uma nova questão para pacientes C-High/G-Low abaixo dos 50 anos, pois uma diferença de 5% mostra que enquanto não tivermos certeza de que essa diferença se dá pela quimio propriamente dita ou pela inibição ovariana, acabaremos indicando um ou outro a esse grupo. Assim, para esse grupo específico acabaremos sempre indicando um tratamento mais agressivo”, destaca Bromberg.
“Apesar de uma pior caracterização de pacientes alto risco no estudo TAYLOR X, será que através do seu Recorrence Score não seria possível estratificar melhor o tipo de indicação do tratamento como inibição ou quimio?”, indaga.
Informações sobre este ensaio clínico (ClinicalTrials.gov): NCT00433589.
C-High / G-Low patients (ITT population): updated outcomes |
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DMFS with CT |
DMFS without CT |
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At 5 years (95% CI) |
95.7% (93.9-96.9) |
94.8% (92.9-96.2) |
At 8 years (95% CI) |
92.0% (89.6-93.8) |
89.4% (86.8-91.5) |
OS with CT |
OS without CT |
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At 8 years (95% CI) |
95.7% (93.9-97.0) |
94.3% (92.2-95.8) |
O mastologista Silvio Bromberg analisa o estudo em PODCAST. Ouça aqui.
Referência: MINDACT: Long-term results of the large prospective trial testing the 70-gene signature MammaPrint as guidance for adjuvant chemotherapy in breast cancer patients. - J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr 506) - DOI:10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.506
First Author: Fatima Cardoso, MD
Meeting: 2020 ASCO Virtual Scientific Program
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Breast Cancer—Local/Regional/Adjuvant
Track: Breast Cancer—Local/Regional/Adjuvant
Subtrack: Adjuvant Therapy
Abstract #: 506