A experiência de COVID-19 e câncer em pacientes tratados no Gustave Roussy Cancer Campus, em Villejuif, na França, foi um dos destaques da AACR 2020. Em apresentação de Fabrice Barlesi, o grupo francês descreveu os resultados de pacientes com câncer infectados com COVID-19 e tratados na instituição.
O surto de SARS-CoV-2 na região de Paris afetou significativamente o Gustave Roussy Campus Center, que decidiu reorganizar a gestão de pacientes com câncer, primeiro com o objetivo de proteger o paciente, segundo para que pacientes não perdessem a chance de receber atendimento oncológico.
No dia 12 de março, o Gustave Roussy Cancer Campus passou a admitir pacientes de câncer com suspeita de infecção por SARS-CoV-2. As indicações de triagem foram adaptadas ao longo do tempo. Todos os pacientes com teste positivo de COVID-19 passaram a ser gerenciados na instituição, que em 14 de março registrou o 1º caso positivo e a partir de 15 de abril passou a incluir as informações no RedCap. O objetivo primário desta análise foi avaliar a deterioração clínica, definida como a necessidade de suplementação de O2 de 6l/minutos ou mais, ou morte por qualquer causa.
Resultados
No total, 7.251 pacientes com câncer foram gerenciados na instituição durante esse período, 3616 hospitalizados. Um total de 1302 pacientes foram testados, sendo 12% positivos para SARS-CoV-2.
Entre os 137 primeiros casos de câncer diagnosticados com SARS-CoV-2, a maioria era do sexo feminino (58%), idade média de 61 anos, incluindo 36 pacientes (26%) ≥ 70 anos. Os tumores sólidos (115) foram o tipo de câncer mais frequente, incluindo neoplasias da mama (23), GI (18), cabeça e pescoço (17), GU (17), GYN (17). Vinte e dois pacientes tinham malignidades hematológicas. No momento do diagnóstico da COVID-19, 79 pacientes (58%) tinham câncer metastático / ativo e 56 (41%) foram considerados em remissão / tratados com intenção curativa.
O diagnóstico de infecção por SARS-CoV-2 foi realizado por RT-PCR ou tomografia computadorizada de tórax isoladamente em 93,4% e 6,6% dos casos, respectivamente.
A maioria dos pacientes foi hospitalizada (75%) e tratada com HCQ / AZI (40; 30%), com inclusão no estudo ONCOVID (EudraCT: 2020-01250-21), inibidor de IL-6 (10), antiviral (6) ou esteroides (13). Quinze pacientes foram internados em UTI (11%). Os dados apresentados na AACR 2020 mostram que ocorreu deterioração clínica em 34 pacientes (24,8%), notadamente associada à doença hematológica subjacente.
No corte de dados, em 20 de abril de 2020, 95 (69,3%), 20 (14,6%) e 22 (16,1%) pacientes receberam alta, morreram ou ainda estavam hospitalizados, respectivamente. Todas as mortes foram consideradas relacionadas à infecção por SARS-CoV-2.
“Globalmente, a taxa de infecção por SARSCoV-2 na população de pacientes com câncer não parece ser maior em comparação com a população mundial”, apontam os autores. “Não encontramos evidências de que a COVID-19 seja mais letal ou agressiva em pacientes com câncer”, concluem.
Referência: Outcome of cancer patients infected with COVID-19, including toxicity of cancer treatments - Fabrice Barlesi, Stéphanie Foulon, Arnauld Bayle, Bertrand Gachot, Fanny Pommeret, Christophe Willekens, Annabelle Stoclin, Mansouria Merad, Franck GriscelliI, Jean-Baptise Micol, Roger Sun, Thomas Nihouarn, Corinne Balleygier, Fabrice André, Florian Scotte, Benjamin Besse, Jean-Charles Soria, Laurence Albiges. Gustave Roussy Cancer Campus, Villejuif, France