O DNA tumoral circulante pode ajudar a prever o risco de recorrência do câncer de mama triplo-negativo em mulheres com doença inicial submetidas à cirurgia após quimioterapia neoadjuvante. É o que mostram resultados de estudo apresentado no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019. Os dados foram apresentados por Bryan P. Schneider (foto), professor de Medicina e Genética Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, autor sênior do estudo.
Tecnologias como o ctDNA ou DNA tumoral circulante derivado de plasma estão sendo exploradas como estratégia para detectar câncer, orientar o tratamento e monitorar pacientes durante a remissão. Neste estudo, os autores analisaram amostras de plasma coletadas de pacientes inscritos no ensaio clínico BRE12-158, que avaliou 196 pacientes com câncer de mama triplo-negativo tratadas com neoadjuvância. O ctDNA foi sequenciado em 148 pacientes (64%).
O ctDNA mutado foi detectado em 94 pacientes, representando 64%. O TP53 foi o gene mais mutado, seguido por outros que estão comumente associados ao câncer de mama.
Em 17,26,7 meses de seguimento, a detecção do ctDNA foi significativamente associada à sobrevida livre de doença à distância (DDFS). Pacientes com ctDNA apresentaram DDFS mediano de 32,5 meses, enquanto os pacientes sem ctDNA não atingiram a mediana. Em 24 meses, a probabilidade de DDFS foi observada em 53% de pacientes com ctDNA positivo, em comparação com 81% de pacientes com ctDNA negativo. Na análise multivariada, controlando fatores como carga residual de câncer, raça, tamanho, grau e estágio do tumor, a detecção do ctDNA permaneceu independentemente associada a DDFS inferior (HR=3.1, CI: 1.4-6.8, p=0.0048).
No geral, em pacientes com ctDNA positivo o risco de recorrência à distância foi três vezes maior do que em pacientes com ctDNA negativo. A detecção de ctDNA também foi associada à sobrevida global inferior (p=0.021). Pacientes com ctDNA positivo tiveram um risco 4,1 vezes maior de morte em comparação com pacientes com ctDNA negativo.
"Este estudo estabelece que pacientes com câncer de mama triplo negativo com ctDNA positivo após terapia neoadjuvante têm maior risco de recorrência", disse Schneider. "Isso pode preparar terreno para novos ensaios clínicos para esses pacientes de alto risco, avaliando novas maneiras de prevenir a recorrência", destacou.
Este estudo ainda está em andamento e segundo os autores a maior limitação é justamente o curto período de acompanhamento. Os resultados podem mudar em análises futuras. Este estudo foi financiado pela Vera Bradley Foundation for Breast Cancer e pela Indiana University Grand Challenge Precision Health Initiative.