Em pacientes com câncer de mama inicial, estudo com 10 anos de acompanhamento indica que a irradiação parcial da mama pode ser tão eficaz quanto a irradiação total na prevenção da recorrência. “A irradiação acelerada parcial da mama pode produzir excelente controle da doença, em casos selecionados”, disse Icro Meattini (foto), da Universidade de Florença, Itália, que apresentou os resultados no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019.
Para determinar se a irradiação acelerada parcial da mama (APBI, do inglês Accelerated Partial Breast Irradiation) pode ser tão eficaz quanto a irradiação total (WBI) na prevenção de recorrências, Meattini e colegas examinaram dados de 10 anos de acompanhamento de mulheres inscritas no ensaio APBI IMRT, randomizado, de fase III.
Entre 2005 e 2013, 520 pacientes foram randomizados 1: 1 para APBI (N= 260) ou WBI (N=260). Pacientes do braço APBI receberam um total de 30 Gray (Gy) de radiação no leito do tumor em cinco frações diárias, enquanto pacientes do braço WBI receberam 50 Gy em 25 frações diárias em toda a mama, além de um aumento de 10 Gy no leito tumoral em cinco frações diárias. Ambos os braços de tratamento foram comparáveis em termos de idade, tamanho do tumor, tipo de tumor e tratamento endócrino adjuvante, e ambos tiveram seguimento médio de 10 anos. A maioria dos pacientes tinha mais de 50 anos (mediana de 62,8 anos) e apresentou câncer de mama receptor hormonal positivo, HER2 negativo. O estudo mostrou que, após 10 anos, 3,3% dos pacientes do grupo APBI experimentaram recorrência, em comparação com 2,6% do grupo que recebeu WBI. Esses resultados foram comparáveis aos dados de cinco anos, nos quais pacientes tratados com APBI tiveram taxa de recorrência de 2,4%, enquanto pacientes tratados com WBI tiveram taxa de recorrência de 1,2%, ambas sem significância estatística.
Em 2018, estudo apresentado no SABCS mostrou que, embora os resultados estivessem próximos, WBI se mostrou um pouco mais eficaz na redução das taxas de recorrência. Para Meattini, esse crescente corpo de pesquisa pode ajudar os médicos a recomendar que pacientes com menor risco de recorrência optem por receber APBI, enquanto aqueles com maior risco podem ser recomendados para WBI. “Em casos bem selecionados, não há diferença nos resultados dos pacientes tratados com APBI ou WBI”, disse ele. “Um regime diário de APBI externo também pode produzir melhor qualidade de vida, com menos toxicidade e potencialmente reduzir o tempo total de tratamento”, acrescentou, observando que APBI é mais barata de administrar e ainda tem menor probabilidade de causar alterações cosméticas.
A sobrevida câncer específica foi de 97,6% para aqueles tratados com APBI e de 97,5% para aqueles que receberam WBI. A taxa de sobrevida livre de metástases à distância foi de 96,9%, tanto para as mulheres que receberam APBI quanto para as que receberam WBI. "Esses resultados reforçam os dados promissores do estudo anterior", disse Meattini.
Como crítica, o autor aponta que a principal limitação do estudo é seu tamanho relativamente pequeno.
"Para muitos pacientes, a irradiação parcial da mama pode ser uma escolha ótima, econômica, segura e eficaz", concluiu.
