Homens com câncer de próstata podem ser poupados de radioterapia após a cirurgia. É o que mostram os resultados do estudo RADICALS-RT apresentado no Congresso ESMO 2019, em Barcelona.  “Os resultados sugerem que a radioterapia é igualmente eficaz se é administrada logo após a cirurgia ou posteriormente a homens com doença recorrente”, explicou Chris Parker (foto), do Royal Marsden NHS Foundation Trust, primeiro autor do estudo.

“Agora, há um forte argumento de que a observação deve ser a abordagem padrão após a cirurgia. A radioterapia só deve ser usada se o câncer voltar”, afirmou o especialista.

O RADICALS-RT é o maior estudo já realizado sobre radioterapia pós-operatória no câncer de próstata e não encontrou diferença na recorrência da doença em cinco anos entre homens que fizeram radioterapia rotineiramente logo após a cirurgia e homens que receberam radioterapia mais tarde, na recorrência. "A boa notícia é que, no futuro, muitos homens evitarão os efeitos colaterais da radioterapia ", acrescentou Parker.

Os resultados foram confirmados em uma metanálise colaborativa (ARTISTIC), também apresentada no Congresso ESMO 2019, combinando os resultados do estudo RADICALS com dois ensaios semelhantes, RAVES e GETUG-AFU17. “Os resultados da metanálise confirmam os dados do RADICALS-RT e fornecem maiores evidências para apoiar o uso rotineiro da observação e da radioterapia de resgate”, disse Claire Vale, pesquisadora da University College London, Reino Unido e primeira autora da metanálise.  

Para Xavier Maldonado, do Hospital Universitário Vall d'Hebron, esses são os primeiros resultados sugerindo que a radioterapia pós-operatória para câncer de próstata pode ser omitida ou atrasada em alguns pacientes. “Isso reduzirá a duração do tratamento para esses pacientes e permitirá um melhor uso dos recursos, pois a radioterapia hoje é tecnicamente sofisticada e, portanto, cara. No entanto, será necessário um acompanhamento rigoroso para identificar os pacientes que necessitam da radioterapia de resgate”, acrescentou.

RADICALS-RT

O estudo RADICALS-RT (NCT00541047) inscreveu 1.396 pacientes após cirurgia para câncer de próstata no Reino Unido, Dinamarca, Canadá e Irlanda. Os homens foram randomizados para receber radioterapia pós-operatória ou somente observação, com a opção de receber radioterapia no caso de recorrência da doença.

Em um seguimento médio de cinco anos, a sobrevida livre de progressão foi de 85% no grupo de radioterapia e 88% no grupo de observação (razão de risco [HR] 1,10; intervalo de confiança de 95% [IC] 0,81-1,49; p = 0,56).

A incontinência urinária autorreferida em um ano foi pior em 5,3% dos pacientes que receberam radioterapia, em comparação com 2,7% dos pacientes inscritos no grupo de observação = 0,008). A estenose uretral de grau 3 e 4 (RTOG) foi de 8% entre os pacientes que receberam radioterapia versus 5% dos pacientes em observação (p = 0,03).  Agora, um acompanhamento mais prolongado deve apresentar dados de sobrevida, assim como dados de sobrevida livre de metástases à distância, endpoint primário do estudo.

ARTISTIC

A metanálise ARTISTIC incluiu três ensaios clínicos randomizados comparando radioterapia adjuvante com radioterapia de resgate após prostatectomia para homens com câncer de próstata localizado: RADICALS (ISRCTN40814031), GETUG-AFU 17 (NCT00667069) e RAVES (NCT00860652). Os resultados são baseados em todos os 2.151 homens incluídos nos três estudos, dos quais 1.074 foram randomizados para radioterapia adjuvante e 1.077 homens foram randomizados para radioterapia de resgate - desses, 395 homens (37%) iniciaram o tratamento de resgate.

A análise não encontrou evidências de que a radioterapia adjuvante melhore a sobrevida livre de eventos em comparação com a radioterapia de resgate (HR 1,12; IC95% 0,88-1,42; p = 0,37).

Referências:

LBA49_PR - Timing of Radiotherapy (RT) After Radical Prostatectomy (RP): First Results from the RADICALS RT Randomised Controlled Trial (RCT) [NCT00541047] - Chris Parker et al - Annals of Oncology, Volume 30, Supplement 5, October 2019