Excesso de peso antes dos 50 anos pode estar mais fortemente associado ao risco de mortalidade por câncer pancreático do que o excesso de peso em idades mais avançadas, de acordo com os resultados de um estudo apresentado na AACR 2019.
O câncer de pâncreas é relativamente incomum, representando pouco mais de 3% de todos os novos casos de câncer. No entanto, é um tipo extremamente letal de câncer, com uma taxa de sobrevida em cinco anos de apenas 8,5%, de acordo com o National Cancer Institute’s Surveillance, Epidemiology, and End Results database. Nos Estados Unidos, o câncer de pâncreas é a terceira principal causa de morte por câncer, após o câncer de pulmão e colorretal, e deve causar cerca de 46 mil mortes em 2019.
"As taxas de câncer pancreático têm aumentado constantemente desde o início dos anos 2000. Ficamos intrigados com esse aumento porque o tabagismo, um importante fator de risco para a doença, está diminuindo”, disse o principal autor do estudo, Eric J. Jacobs, diretor científico sênior Pesquisa em Epidemiologia da American Cancer Society, em Atlanta.
O aumento de peso na população dos EUA é um provável suspeito, mas estudos anteriores indicaram que o excesso de peso está relacionado apenas a um aumento relativamente pequeno no risco, o que não poderia justificar os recentes aumentos nas taxas de câncer pancreático.
Além disso, a maioria dos estudos anteriores sobre a relação entre peso e câncer de pâncreas foram baseados no peso medido na idade adulta avançada, o que pode refletir a gordura corporal adquirida tarde demais para influenciar o risco de câncer pancreático. Neste estudo, os pesquisadores procuraram descobrir se o excesso de peso medido no início da vida adulta poderia estar mais fortemente associado ao risco de câncer de pâncreas do que o excesso de peso medido em idades mais avançadas.
Sobre o estudo
Pesquisadores examinaram dados de 963.317 adultos americanos sem histórico de câncer que se inscreveram no American Cancer Society’s Cancer Prevention Study II, um estudo nacional sobre mortalidade por câncer que começou em 1982 e acompanhou os participantes até 2014.
Todos os participantes relataram o peso e altura apenas uma vez, no início do estudo, quando alguns tinham 30 anos, enquanto outros estavam na faixa dos 70 ou 80 anos. Os pesquisadores usaram essas informações para calcular o índice de massa corporal (IMC).
Resultados
Durante o período de acompanhamento, 8.354 participantes morreram de câncer de pâncreas. Como esperado, o IMC mais alto foi relacionado ao aumento do risco de morte por câncer de pâncreas, mas esse aumento no risco foi maior para o IMC avaliado em idades mais precoces. Um aumento de cinco unidades de IMC, cerca de 14 quilos para um adulto de 1,70 metros, foi associado com um risco aumentado de 25% naqueles que tiveram seu IMC avaliado entre 30 e 49 anos; 19% maior risco nos avaliados entre 50 e 59 anos; aumento de 14% no risco nos avaliados entre 60 e 69 anos; e 13% maior risco entre aqueles avaliados entre 70 e 89 anos (p = 0,005).
“Os resultados do estudo indicam que o excesso de peso pode aumentar o risco de morte por câncer de pâncreas mais do que se acreditava anteriormente. Além disso, as gerações recentes estão atingindo a meia-idade com mais excesso de peso do que as gerações anteriores”, observou Jacobs. O excesso de peso explicará uma proporção maior de risco de câncer de pâncreas no futuro, à medida que gerações mais novas e mais pesadas atingem as idades mais avançadas, quando o câncer de pâncreas normalmente ocorre”, acrescentou.
“Com base em um hazard ratio de 1,25 por 5 unidades de IMC aos 45 anos, estimamos que 28% das mortes por câncer de pâncreas nos EUA entre aqueles nascidos de 1970 a 74 sejam atribuíveis a níveis de IMC> 25 kg/m2, quase duas vezes a porcentagem equivalente naqueles nascidos nos anos 1930, um grupo que tinha uma probabilidade muito menor de ser obeso no início da meia-idade”, afirmou Jacobs. "Nossos resultados sugerem fortemente que para interromper e eventualmente reverter os recentes aumentos nas taxas de câncer de pâncreas, precisaremos trabalhar na prevenção da obesidade em crianças e adultos jovens, o que ajudaria a prevenir muitas outras doenças também", disse Jacobs.
O estudo foi financiado pela American Cancer Society.
Referência: The association between body mass index (BMI) and risk of pancreatic cancer depends on age at BMI assessment – Eric J. Jacobs