Estudo apresentado no ASH 2018 por Ana Cordeiro (foto), hematologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO) e médica visitante no Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, sugere que as células CAR-T anti-CD19 são seguras a longo prazo.1
Por Ana Cordeiro e Evandro Bezerra
As células "CAR-T" (chimeric antigen receptor modified T-cells) contra o antígeno de células B CD19 mostraram excelente taxas de resposta em pacientes com neoplasias agressivas de células B recidivadas ou refratárias,2,3,4. Um estudo clínico de fase I/II realizado no Fred Hutchinson Cancer Research Center (FHCRC) utilizando células CAR-T anti-CD19 experimentais também mostrou resultados promissores5,6.
No estudo apresentado no ASH 18, avaliamos retrospectivamente 60 pacientes com linfoma não-Hodgkin (NHL, N=43) ou leucemia linfocítica crônica (LLC, N=17) recidivados ou refratários tratados nesse estudo clínico. Forram incluídos apenas pacientes com um seguimento mínimo de um ano. O objetivo foi descrever eventos adversos tardios (após 3 meses da infusão das células CAR-T anti-CD19).
O seguimento mediano foi 25 meses (12,6-62,6). O número mediano de linhas de tratamento prévio foi 4 (1-8), sendo que 40% e 15% dos pacientes haviam recebido previamente transplante autólogo e alogênico, respectivamente. 35% dos pacientes (N=21) mantiveram resposta completa sem tratamentos adicionais para linfoma ou LLC, com seguimento mediano de 28 meses (17,7-44).
O estudo mostrou que 60% dos pacientes tiveram hipogamaglobulinemia tardia, definida como níveis de IgG menor que 400mg/dL ou reposição de imunoglobulina intravenosa após 90 dias do tratamento com células CAR-T anti-CD19. Digno de nota, 27% tinham IgG menor de 400mg/dL antes de receber o tratamento experimental. Apesar disso, a maioria das infeções tardias foram leves e de manejo ambulatorial.
Observamos segundas neoplasias após células CAR-T anti-CD19 em 17% dos pacientes. Isso inclui quatro pacientes com SMD, cinco com neoplasias cutâneas não-melanoma e um com neoplasia superficial de bexiga. Contudo, todos esses pacientes possuíam fatores de risco tipicamente relacionados com o desenvolvimento das neoplasias descritas acima.
Em conclusão, apesar dos dados serem limitados pelo caráter retrospectivo, os resultados do estudo sugerem que as células CAR-T anti-CD19 são seguras a longo prazo. Essa terapia tem o potencial de manter pacientes com formas resistentes de NHL e LLC em remissão por longo prazo sem efeitos adversos limitantes.
Referências:
1 - 223 Late Effects of CD19-Targeted CAR-T Cell Therapy - Ana Cordeiro, Evandro D Bezerra, Joshua Aiden Hill, Cameron J. Turtle, David G. Maloney, and Merav Bar
2 - Maude et al. N Engl J Med 2018; 378:439-448 (ELIANA)
3 - Borchmann et al. Abstract #S799, the 23rd Congress of the EHA, June 16, 2018 (JULIET)
4 - Neelapu SS N Engl J Med 2017; 377:2531-2544 (ZUMA-1)
5 - Turtle et al. Sci Transl Med. 2016 Sep 7;8(355):355ra116
6 - Turtle et al. J Clin Oncol. 2017 Sep 10;35(26):3010-3020