Estudo duplo cego, global, de fase III apresentado no 2018 Gastrointestinal Cancers Symposium (ASCO GI) demonstrou que o inibidor de MET, VEGFR e AXL cabozantinibe melhorou significativamente a sobrevida global e sobrevida livre de progressão em comparação com placebo em pacientes carcinoma hepatocelular avançado (CHC) previamente tratados.
Os pacientes foram randomizados 2:1 para receber cabozantinibe (C, 60 mg qd) ou placebo (P) compatível estratificado por etiologia da doença (HBV, HCV, outro), região geográfica (Ásia, outro), e presença de disseminação extra-hepática e/ou invasão macrovascular (EHS/MVI).
Os pacientes elegíveis tiveram diagnóstico patológico de carcinoma hepatocelular, score A de Child-Pugh, ECOG PS ≤1 e deveriam ter recebido sorafenibe prévio. Os pacientes receberam até duas linhas de terapia sistêmica prévia para CHC e progrediram após pelo menos um tratamento.
O endpoint primário foi a sobrevida global (SG). A sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador e a taxa de resposta objetiva (ORR) por RECIST 1.1 foram endpoints secundários.
O estudo foi desenhado para detectar um hazard ratio (HR) para SG de 0,76 (90% power, 2-sided α = 0.05) na análise final, com duas análises intermediárias pré-especificadas em 50% e 75% dos 621 eventos planejados.
Resultados
A partir de 1º de junho de 2017, 707 pacientes foram randomizados e 484 mortes ocorreram (317 de 470 para cabozantinibe; 167 em 237 para placebo). As características do baseline foram equilibradas entre os dois braços: a mediana era de 64 anos, 82% eram do sexo masculino, 38% tinham HBV, 24% tinham HCV, 25% foram recrutados na Ásia, 78% tinham EHS, 30% tinham MVI, 85% tinham EHS/MVI e 27% receberam dois regimes de terapia sistêmica prévia para CHC avançado.
O estudo atingiu o endpoint primário na segunda análise provisória planejada, com mediana de sobrevida global de 10,2 meses para cabozantinibe versus 8 meses para placebo (HR 0,76, 95% IC 0,63-0,92; p = 0,0049). A mediana se sobrevida livre de progressão foi de 5,2 meses para cabozantinibe versus 1,9 meses para placebo (HR 0,44, 95% IC 0,36-0,52; p <0,001); a taxa de resposta global (ORR) foi de 4% vs 0,4% (p = 0,0086).
Os eventos adversos de graus 3/4 mais comuns (predominantemente grau 3) com maior incidência no braço cabozantinibe vs placebo incluíram reação cutânea mão-pé (17% vs 0%), hipertensão (16% vs 2%), aumento da aspartato aminotransferase (12% vs 7%), fadiga (10% vs 4%) e diarreia (10% vs 2%).
Os autores concluíram que cabozantibibe melhorou significativamente a sobrevida global e sobrevida livre de progressão em comparação com placebo em pacientes com CHC avançado previamente tratado. Os eventos adversos foram consistentes com o perfil de segurança conhecido do tratamento.
"Cabozantinibe entra como mais um tratamento em segunda linha de CHC pós uso de sorafenibe, juntamente com regorafenibe e nivolumabe. Curiosamente, os resultados de sobrevida global mediana oferecidos sobre estas drogas são muito parecidos e não está claro como selecionar pacientes para cada tratamento. Importante também mencionar que todos os estudos com estas três drogas recrutaram pacientes que receberam previamente sorafenibe, e nao levantinibe (estudo fase III recente mostrou não-inferioridade a sorafenibe em 1a linha)", observa a oncologista Rachel Riechelmann, Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center.
Informação do ensaio clínico: NCT01908426
Referência: Abstract 207: Cabozantinib (C) versus placebo (P) in patients (pts) with advanced hepatocellular carcinoma (HCC) who have received prior sorafenib: Results from the randomized phase III CELESTIAL trial. - Ghassan K. Abou-Alfa et al - Citation: J Clin Oncol 36, 2018 (suppl 4S; abstr 207)