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AtualizadoQua, 15 Maio 2024 8pm

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ASCO 2018

Radioterapia: avanços e controvérsias na ASCO 2018

Robson Ferrigno NET OK 1O radio-oncologista Robson Ferrigno (foto), responsável pelos serviços de Radioterapia dos Hospitais BP e BP Mirante, comenta estudo apresentado na ASCO 2018 que avaliou a radioterapia profilática em pacientes com câncer de mama com mutação BRCA 1/ 2 que recusaram mastectomia profilática. Outro estudo destacado na análise do especialista mostra que a radioterapia adjuvante piorou a sobrevida global no câncer de pulmão. “Esses achados sugerem que a melhora da curabilidade do câncer de pulmão operado está relacionada ao emprego de drogas mais efetivas e não ao emprego de radioterapia, mesmo com técnicas mais avançadas”.

 

Por Robson Ferrigno*

Na sessão de pôster sobre tratamento local em câncer de mama, realizada na manhã de sábado (02/06), foi apresentado estudo israelense multicêntrico, prospectivo, de fase II, que inscreveu pacientes com câncer de mama com mutações dos genes BRCA 1 e/ou 2. O estudo envolveu 161 pacientes a partir de 30 anos de idade, que recusaram a proposta de mastectomia contralateral profilática. Dessas, 81 não receberam tratamento da mama contraletaral e as outras 81 receberam radioterapia em toda a mama, com dose de 50 Gy em 25 frações, ao mesmo tempo em que receberam radioterapia na mama ipsilateral.

Com seguimento mediano de 60 meses, a recaída local na mama contralateral em 5 anos entre as pacientes que não receberam tratamento e nas que foram submetidas à radioterapia foi de 11,1% e 2,4%, respectivamente (p=0,027). Não houve aumento de toxicidade relacionada à radioterapia entre as pacientes que tiveram a mama contralateral irradiada.

Este estudo apresenta uma estratégia inédita para essas pacientes. Em Israel, onde a incidência de mutação dos genes BRCA 1 e 2 é comum, frequentemente as pacientes ficam apreensivas com os efeitos da mastectomia profilática, principalmente com relação à estética e a diminuição da sensibilidade erógena. O estudo apresentado mostra uma opção razoável para essas pacientes, porém, ainda não representa uma mudança de prática. O número de pacientes ainda é pequeno e o seguimento relativamente curto. Por outro lado, geração de uma hipótese: a possibilidade de se utilizar a radioterapia profilática da mama contralateral em pacientes com mutação dos genes BRCA 1 e 2 para as que recusam a mastectomia profilática. A conferir.

Oncologia torácica

Na sessão de câncer de pulmão de domingo (03/6), vale destacar dois estudos extraídos de bancos de dados norte-americanos. Um deles, do “Surveillance, Epidemiology, and End Results” (SEER), avaliou 15.544 pacientes com câncer de pulmão não pequenas células, estádios II e III tratados primariamente com cirurgia entre 2004 e 2014. O emprego da radioterapia adjuvante foi prejudicial, ou seja, piorou a sobrevida global nos pacientes estádios pN0 com ou sem quimioterapia associada (p<0,001), nos pN1 com ou sem quimioterapia (p<0,001) e nos pN2 sem quimioterapia (p=0,02). Entre os pacientes pN2 que receberam quimioterapia adjuvante, a adição de radioterapia não trouxe qualquer benefício de sobrevida global (p=0,41), ao contrário da análise prévia do SEER (Lally, JCO 2006), da reanálise do estudo ANITA (Douillard, IJROBP 2008) e da análise de outro banco norte-americano, o National Cancer Data Base (Robinson, JCO 2015), que mostraram benefício da radioterapia adjuvante no estádio pN2. O emprego da quimioterapia melhorou a sobrevida em todos pacientes N+.

Essa análise, realizada em um período que utilizou a radioterapia com técnicas modernas, gera uma importante hipótese: a ausência de benefício da trimodalidade em câncer de pulmão. Esses achados sugerem que a melhora da curabilidade do câncer de pulmão operado está relacionada ao emprego de drogas mais efetivas e não ao emprego de radioterapia, mesmo com técnicas mais avançadas.

Outro estudo, extraído do National Cancer Data Base (NCDB), avaliou 9.769 pacientes estádio N3 tratados com quimioterapia apenas ou combinada à radioterapia, no período de 2010 a 2013. Desses, 37% tinham mais de 70 anos de idade, grupo com mais tendência a desenvolver toxicidade do tratamento combinado. A adição de radioterapia trouxe benefício de sobrevida mediana em todos pacientes (16,4 meses Vs 12,7 meses; p<0,0001) e entre aqueles acima de 70 anos (15 meses Vs 12,4 meses; p<0,0001). Portanto, para pacientes N3, mesmo para os mais idosos, a combinação de rádio e quimioterapia deve ser oferecida, desde que esses pacientes tolerem o regime combinado.

*Robson Ferrigno é médico responsável pelos Serviços de Radioterapia dos Hospitais BP e BP Mirante

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