A ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI) é o padrão de imagem de referência para estadiamento local do câncer de próstata. Estudo do ICESP aceito na ASCO 2018 em publicação eletrônica apresentou dados prospectivos sobre o comprimento do contato tumoral com a cápsula prostática (TCL, da sigla em inglês) como preditor de tumor extraprostático (EEP). “Embora os dados ainda sejam preliminares e com curto tempo de seguimento (14 meses), já temos resultados estatisticamente significantes que suportam inferir que a medida do TCL através da mpMRI poderá representar um marcador imaginológico de agressividade”, diz o primeiro autor, o radiologista Públio Viana (foto).
O comprimento do contato tumoral (TCL) é um parâmetro objetivo da mpMRI definido como o comprimento do câncer de próstata em contato com a cápsula prostática, indicador que pode fornecer informações importantes com valor preditivo para orientar estratégias de tratamento. “Pacientes com tumor extraprostático têm pior prognóstico do que aqueles com doença confinada ao órgão, com maior risco de recorrência bioquímica após prostatectomia radical. Esses fatores, além dos linfonodos positivos, são fundamentais no processo de tomada de decisão em relação ao tratamento”, escrevem os autores.
O estudo avaliou prospectivamente 147 pacientes submetidos à mpMRI da próstata seguida de prostatectomia radical, de abril de 2014 a julho de 2017. O TCL foi medido por meio de imagens de ressonância magnética ponderadas em T2. Os valores de antígeno prostático específico (PSA) pós-operatório foram obtidos a cada 3 meses no primeiro ano, depois bianualmente e anualmente depois disso. A recorrência bioquímica foi definida como PSA≥0.2ng / mL. O critério de exclusão foi o tratamento prévio.
Resultados
Após seguimento pela mediana de 14 meses, 69/147 (46,9%) pacientes apresentaram EEP patológico, 9/147 (6,1%) apresentaram linfonodos positivos (PLN) e 18/147 (12,2%) pacientes apresentaram recorrência bioquímica.
Para os autores, os dados mostram que os valores de TCL foram significativamente maiores em pacientes com EEP patológico (17,7 mm vs 10,3 mm, p <0,001), em pacientes com PLN (26,5 mm vs 13,0 mm, p = 0,003) e em pacientes com recorrência bioquímica (18,2 mm vs 13,2 mm, p = 0,049). “Nós demonstramos prospectivamente em nossa população que os valores de TCL foram significativamente maiores em pacientes com tumor extracapsulado, com linfonodos positivos e recorrência bioquímica”, concluem.
O primeiro autor, Públio Viana, esclarece que o estudo ainda está andamento coletando pacientes prospectivamente. “A literatura aceita que, mesmo com limitações, a mpMRI da próstata é o método de escolha no estadiamento local. No entanto, existe grande variabilidade na acurácia desse método, o que em grande parte se deve à utilização de critérios subjetivos na análise da extensão do tumor além da cápsula prostática, por parte dos radiologistas”, explica.
O especialista também chama a atenção para a menor acurácia destes critérios subjetivos na predição da EEC microscópica, considerada em vários trabalhos da literatura como o ponto de fragilidade da mpMRI. “Neste contexto, procuramos objetivar nossa análise através da medida do TCL, tentando encontrar um ponto de corte que nos permita predizer a EEC microscópica com acurácia significativa. Mais que isso, estendemos nossas análises estudando a relação entre o TCL e a chance de linfonodos positivos após a prostatectomia radical e tentamos achar um valor/medida objetiva que pudesse predizer a chance de recidiva bioquímica após o tratamento com intenção curativa. Embora os dados ainda sejam preliminares e com curto tempo de seguimento (14 meses apenas), já temos resultados estatisticamente significantes que suportam inferir que a medida do TCL através da mpMRI poderá representar um marcador imaginológico de agressividade”, analisa Públio.
Agora, o estudo permanece captando pacientes para seguimento de mais longo prazo para dar mais robustez aos dados preliminares apresentados na ASCO 2018. “Em última análise, talvez a medida do TCL mereça ser incluída na equação decisória da melhor estratégia de tratamento dos pacientes com câncer de próstata e como um biomarcador, por imagem, da chance de recidiva bioquímica e comprometimento linfonodal”, conclui.
Referência: J Clin Oncol 36, 2018 (suppl; abstr e17016)