Resultados do estudo FLAURA apresentados na ESMO 2017 em Madri mostram que o inibidor de tirosina quinase osimertinibe melhora a sobrevida livre de progressão em 54% dos pacientes em comparação com a terapia padrão de primeira linha no câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) com mutação EGFR. As mutações de EGFR estão presentes em cerca de 15% dos casos de CPNPC em populações ocidentais, subindo para 35% em populações asiáticas. Os inibidores de EGFR são superiores à quimioterapia no tratamento de primeira linha desses pacientes. A oncologista Ana Gelatti (foto), médica do Hospital do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre, e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), comenta o estudo.
No entanto, apesar de altas taxas de resposta e do ganho em sobrevida livre de progressão, os pacientes invariavelmente desenvolvem resistência a drogas como erlotinibe e gefitinibe. Na maioria dos pacientes, esta resistência é mediada pela mutação T790M.
A ESMO 2017 trouxe dados de osimertinibe, apresentados no estudo FLAURA. “Partimos da hipótese de que um fármaco que alveja mutações sensibilizantes de EGFR e a mutação de resistência T790M estaria associado a um melhor resultado", disse o pesquisador principal, Suresh Ramalingam, diretor adjunto do Winship Cancer Institute of Emory University, em Atlanta, EUA.
Osimertinib é um inibidor de tirosina quinase (TKI) de EGFR de terceira geração que inibe seletivamente as mutações de resistência EGFR e T790M. Um estudo preliminar em 60 pacientes tratados com mutações EGFR identificou que a sobrevida livre de progressão mediana foi de 20,5 meses com osimertinib, quase duas vezes superior aos resultados obtidos com erlotinibe ou gefitinibe.
O FLAURA é um estudo clínico randomizado de fase III que comparou osimertinib com o padrão de cuidados erlotinibe ou gefitinibe como terapia de primeira linha em pacientes com CPNPC com mutações de EGFR no exon 19 ou exon21. O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão. Um total de 556 pacientes da Ásia, Europa e América do Norte foram randomizados 1: 1 para receber osimertinib ou o padrão de cuidados.
Os resultados apresentados no congresso europeu mostram que a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 18,9 meses com osimertinib em comparação com 10,2 meses para a terapia padrão, com razão de risco de 0,46 (intervalo de confiança de 95%, 0,37-0,57; p <0,0001). O benefício de SLP foi consistente em todos os subgrupos, incluindo pacientes com e sem metástases cerebrais.
A duração mediana de resposta foi duas vezes maior para os pacientes tratados com osimertinib (17,2 meses) versus o padrão de cuidados (8,5 meses). A taxa de resposta global foi de 80% com osimertinib em comparação com 76% com o padrão de cuidados.
A sobrevida global (SG) também parece favorecer o uso de osimertinib, com uma razão de risco de 0,63, embora o resultado de SG não tenha sido estatisticamente significante na análise intermediária. A sobrevida global mediana não foi alcançada. A incidência de toxicidades de grau 3 ou superior foi menor para osimertinib (34%) comparado ao tratamento padrão (45%).
O estudo FLAURA foi financiado pela AstraZeneca (NCT02296125).
Estudo FLAURA: Osimertinib vs padrão de cuidados no tratamento de primeira linha do CPNPC EGFRm avançado
Por Ana Gelatti, médica do Hospital do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre, e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT)
O osimertinibe, TKI-EGFR de terceira geração, com ação em SNC comprovada, é um potente inibidor tanto de mutações EGFR quanto de mutações de resistência – T790M.
FLAURA é um estudo de fase 3, duplo cego, randomizado, com objetivo de avaliar eficácia e segurança do osimertinibe como primeira linha de tratamento em pacientes com CPNPC doença avançada, EGFR mutado, em comparação com tratamento padrão. 556 pacientes com EGFRm (Del 19 ou L858R), foram randomizados 1:1 para receber osimertinibe 80mg/dia ou o tratamento padrão conforme escolha do investigador (gefinitinibe 250mg/dia ou erlotinibe 150mg/dia).
Pacientes com metástase em SNC eram permitidos desde que com doença neurologicamente estável. O desfecho primário era SLP. As características de base foram bem balanceadas.
Os pacientes que receberam osimertinibe apresentaram redução de 54% na chance de progressão, quando comparados com tratamento padrão. A mediana de SLP foi de 18,9meses vs 10,2 meses (HR 0.46 (0.37, 0.57); p < 0.0001), favorável ao uso de osimertinibe. Os dados para sobrevida global ainda são imaturos. O benefício de SLP foi encontrado em todos subgrupos analisados, inclusive nos pacientes com SNC +. Os dados de segurança foram favoráveis.
Osimertinibe demonstrou, portanto, superioridade em SLP e segurança quando comparados com o tratamento de primeira linha padrão para esta população. Ainda é necessário aguardarmos os dados de sobrevida global.
Além disso será fundamental termos acesso aos dados em relação aos mecanismos de resistência desenvolvidos por essa população com EGFRm expostos primariamente a um inibidor de terceira geração, e que poderá mudar a nossa prática clínica.
Endpoint de eficácia | Osimertinib n=279 |
Padrão de cuidados n=277 |
SLP hazard ratio (HR) (95% de intervalo de confiança) |
0.46 (0.37, 0.57); p<0.0001 | |
SLP mediana em meses (95% de intervalo de confiança) |
18.9 (15.2, 21.4) | 10.2 (9.6, 11.1) |
SLP eventos, total de pts (% maduros) |
136 (49%) | 206 (74%) |
SG HR (95% de intervalo de confiança) |
0.63 (0.45, 0.88); p=0.0068† | |
SG mediana em meses | Não alcançada | Não alcançada |
Total de mortes (%) | 58 (21) | 83 (30) |
ORR (%) | 80 (75,85) | 76 (70,81) |
Duração de resposta em meses | 17.2 (13.8, 22.0) | 8.5 (7.3, 9.8) |
Referência: Abstract LBA2_PR 'Osimertinib vs standard of care (SoC) EGFR-TKI as first-line therapy in patients (pts) with EGFRm advanced NSCLC: FLAURA - S. Ramalingam et al