Thiago Bueno, oncologista do AC Camargo Cancer Center, e Luiz P. Kowalski, Diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia da mesma instituição, atual presidente da International Academy of Oral Oncology (IAOO), comentam os estudos que foram destaque em cabeça e pescoço no programa científico do encontro de Chicago.
Por Thiago Bueno de Oliveira, oncologista clínico do AC Camargo Cancer Center, e Luiz Paulo Kowalski, diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia da mesma instituição, atual presidente da International Academy of Oral Oncology (IAOO)
Em pacientes com carcinoma de nasofaringe, a detecção de DNA de EBV circulante residual após quimiorradioterapia se correlaciona com pior prognóstico e maior risco de recidiva. A quimioterapia adjuvante após o tratamento local é controversa, com pelo menos um estudo prospectivo e randomizado negativo. Nesse contexto, um estudo prospectivo de fase III (abstr 6002) randomizou 104 pacientes com carcinoma de nasofaringe estádios IIB-IV e com DNA EBV detectável após 6-8 semanas do término da quimiorradioterapia para receber 6 ciclos de cisplatina e gemcitabina adjuvante versus observação.
Após seguimento mediano de 6,5 anos, não houve diferença na sobrevida livre de recidiva em 5 anos (58,2x57,3% - HR=0,92 (0,51-1,66) p=0,79) ou sobrevida global em 5 anos (66,2 x 67,6 – HR=1,09 (0,57-2,11) p=0,92) para o grupo de quimioterapia em comparação com observação. Dois estudos prospectivos e randomizados de fase III no carcinoma de nasofaringe também merecem ser citados. Um trabalho (abstr 6005) demonstrou benefício da quimio neoadjuvante com esquema CF x 2 em carcinoma de nasofaringe estádios III-IVB (n=476), com ganho significativo em sobrevida livre de doença em 3 anos (82x74,1% - HR=0,67 (0,47-0,94) p=0,028).
Outro estudo (abstr 6006) avaliou a não-inferioridade da cisplatina semanal 40 mg/m2 concomitante à radioterapia em comparação com cisplatina 100 mg/m2 a cada 3 semanas em tumores estádios II-IVB (n=526), e mostrou sobrevida livre de recidiva em 2 anos de 93x89% (HR=1,21 (0,68-2,16) p=0,504), respectivamente. Vale ressaltar que esses estudos foram conduzidos em zonas endêmicas da doença.
No câncer de cabeça e pescoço localmente avançado, um estudo indiano (abstr 6007) prospectivo de fase III randomizou 300 pacientes e comparou o uso de cisplatina a cada 3 semanas (100 mg/m2 x 3) ou semanal (30 mg/m2) concomitante à radioterapia. Embora fosse permitida a inclusão de pacientes candidatos a tratamento definitivo, 90% da amostra estavam em tratamento adjuvante, sendo que mais de 90% tinham tumor primário em cavidade oral. Após um seguimento médio de 20 meses, o uso de cisplatina semanal se mostrou inferior em taxa de recidiva locorregional em 2 anos (38,6 x 24,6% - HR=1,76 (1,11-2,79) - p=0,014), sem diferença em sobrevida global até o momento. Apesar da crítica em relação à dose de cisplatina utilizada no braço semanal, e da população majoritariamente em cenário adjuvante, este estudo reforça que a dose padrão de cisplatina concomitante à radioterapia em pacientes com doença localmente avançada ainda é de 100 mg/m2 a cada 3 semanas.
Imunoterapia
A imunoterapia já apresenta resultados consolidados de eficácia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastáticos após falha à terapia baseada em platina. O congresso desse ano trouxe estudos iniciais de segurança e mostrou que a imunoterapia pode ser factível em outros cenários.
O inibidor de checkpoint pembrolizumabe foi avaliado em 21 pacientes com câncer de cabeça e pescoço estádios III-IV não metastáticos, ressecáveis, HPV negativos, com 1 aplicação neoadjuvante à cirurgia (abstr 6012), sendo mantido como tratamento adjuvante em pacientes de alto risco (extensão extracapsular e/ou margem positiva). O tratamento foi bem tolerado, sem eventos adversos sérios ou complicações/atrasos na cirurgia, e foram observadas características patológicas de resposta ao tratamento em 43% dos espécimes cirúrgicos, com downstaging clínico-patológico em 48% dos espécimes.
O segundo estudo (abstr 6011) avaliou a imunoterapia concomitante à quimiorradioterapia baseada em cisplatina em 27 pacientes com doença localmente avançada estádios III-IVB. O uso do pembrolizumabe foi seguro, com 3 pacientes (11%) interrompendo o tratamento por efeitos adversos. Não houve aumento de toxicidade, com 100% e 85% dos pacientes recebendo as doses planejadas de radioterapia e cisplatina, respectivamente. A taxa de resposta completa foi de 78%. Outros estudos estão em andamento para avaliar o papel de imunoterapia em outros cenários de tratamento de tumores de cabeça e pescoço localmente avançados.
Referências:
Abstract 6002: A multicenter randomized controlled trial (RCT) of adjuvant chemotherapy (CT) in nasopharyngeal carcinoma (NPC) with residual plasma EBV DNA (EBV DNA) following primary radiotherapy (RT) or chemoradiation (CRT). - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6002)
Abstract 6005: Neoadjuvant chemotherapy followed by concurrent chemoradiotherapy versus concurrent chemoradiotherapy alone in locoregionally advanced nasopharyngeal carcinoma: A phase III multicentre randomised controlled trial. - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6005)
Abstract 6006: Concurrent chemoradiotherapy with 3-weekly versus weekly cisplatin in patients with locoregionally advanced nasopharyngeal carcinoma: A phase 3 multicentre randomised controlled trial (ChiCTR-TRC-12001979). - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6006)
Abstract 6012: Neoadjuvant pembrolizumab in surgically resectable, locally advanced HPV negative head and neck squamous cell carcinoma (HNSCC). - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6012)
Abstract 6011: Safety of pembrolizumab with chemoradiation (CRT) in locally advanced squamous cell carcinoma of the head and neck (LA-SCCHN). - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6011)
Abstract 6007: Phase III randomized trial comparing weekly versus three-weekly (W3W) cisplatin in patients receiving chemoradiation for locally advanced head and neck cancer. - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 6007)