O estudo randomizado de fase III OlympiAD matriculou cerca de 300 mulheres com câncer de mama avançado BRCA-positivo e mostrou que o inibidor de PARP olaparib (Lynparza) reduziu a chance de progressão da doença em 42% (cerca de 3 meses) em comparação com a quimioterapia padrão. Os dados ainda não são maduros o suficiente para determinar se os benefícios fornecidos se traduzem em maior sobrevida global.
"É mais uma prova de conceito do que propriamente um estudo practice changing e certamente não é a opção para todos, mas apenas para pacientes com mutação germline. O que é notável é que agora podemos não apenas adaptar o tratamento do câncer de mama com base nas mudanças genéticas no tumor, mas também nos fatores herdados que impulsionam seu desenvolvimento", avaliou o presidente da ASCO, Daniel F. Hayes, durante coletiva de imprensa.
Até 3% de todos os cânceres de mama ocorrem em pessoas com alterações hereditárias nos genes BRCA1 e BRCA2. Essas mudanças reduzem a capacidade da célula de reparar o DNA danificado. Olaparib bloqueia outros players-chave para o reparo do DNA da célula, PARP1 e PARP2. Devido ao seu defeito subjacente no reparo do DNA, as células cancerosas com mutações BRCA são particularmente vulneráveis aos tratamentos que têm o PARP como alvo.
"Esta é a primeira demonstração de melhores resultados do inibidor de PARP em comparação com o tratamento padrão em mulheres com câncer de mama associado à mutação BRCA", disse o autor principal do estudo, Mark E. Robson, diretor clínico do Serviço de Genética Clínica e médico oncologista no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York. "É especialmente encorajador ver que o olaparib foi eficaz contra os cânceres de mama triplos negativos que surgem em mulheres com mutações germinativas hereditárias no gene BRCA. Este tipo de câncer de mama é particularmente difícil de tratar e muitas vezes afeta mulheres mais jovens".
Sobre o estudo
O estudo matriculou pacientes (≥18 anos) com câncer de mama metastático HER2 negativo, receptor hormonal positivo ou triplo negativo (negativo para receptor de estrogênio, receptor de progesterona e HER2) e mutações germinativas no BRCA. As mulheres com câncer de mama HER2+ não foram incluídas no estudo porque já existem terapias-alvo efetivas para este grupo de pacientes.
Todas as pacientes receberam ≤2 linhas anteriores de quimioterapia para câncer de mama metastático. Foram randomizadas (2:1) 302 pacientes (idade média 44 anos, 50% triplo negativo, 71% quimioterapia anterior para câncer de mama metastático, 28% platina anterior), para olaparib (n=205, 300 mg po bid) ou tratamento de escolha do médico (n=91, ciclos de 21 dias de capecitabina [2500 mg/m2 po dias 1-14], vinorelbina [30 mg/m2 IV dias 1 e 8] ou eribulina [1,4 mg/m2 IV dias 1 e 8]).
O tratamento foi continuado até a progressão objetiva da doença (RECIST v1.1) ou toxicidade inaceitável. O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada por revisão avaliação central independente cega (BICR).
Principais resultados
Os tumores dos pacientes que receberam olaparib diminuíram cerca de 60% em comparação com 29% daqueles que receberam quimioterapia. Em um seguimento médio de cerca de 14 meses, os pacientes que receberam olaparib apresentaram 42% menos chances de progressão do câncer do que aqueles que receberam quimioterapia.
Com 77% de maturidade dos dados, a sobrevida livre de progressão por avaliação central independente cega (BICR) foi significativamente maior em pacientes tratados com olaparib vs tratamento de escolha do médico (HR 0,58; 95% CI 0,43, 0,80; p=0,0009; 7,0 vs 4,2 meses, respectivamente).
O tempo para a segunda progressão (avaliado pelo investigador) também foi maior no braço olaparib (HR 0,57; 95% CI: 0,40, 0,83). A taxa de resposta objetiva foi de 59,9 e 28,8% nos braços de olaparib e tratamento de escolha, respectivamente.
Os eventos adversos mais comuns no grupo do olaparib foram náuseas e anemia, enquanto baixa contagem de glóbulos brancos, anemia, fadiga e erupção cutânea nas mãos e pés foram mais comuns no grupo da quimioterapia. Eventos adversos de grau ≥3 ocorreram em 36,6 e 50,5% dos pacientes de olaparib e tratamento de escolha, levando à descontinuação em 4,9 e 7,7% de pacientes, respectivamente. A qualidade de vida relacionada à saúde foi significativamente melhor no grupo olaparib (olaparib vs tratamento de escolha 7,5; 95% CI 2,48, 12,44; p=0,0035).
"Olaparib provavelmente será melhor utilizado no início do tratamento do câncer de mama metastático, pois ajuda a preservar a qualidade de vida do paciente, adia a necessidade de quimioterapia intravenosa e evita efeitos colaterais como perda de cabelo e baixa contagem de glóbulos brancos", disse Robson.
Este é o primeiro de quatro ensaios clínicos de fase III em curso com inibidores de PARP no câncer de mama a relatar os resultados. Mais pesquisas são necessárias para determinar a atividade do olaparib em cânceres que progridem apesar da quimioterapia à base de platina, um regime padrão não incluído neste estudo, e se a quimioterapia à base de platina seria útil após a progressão ao olaparib.
Referência: Abstract LBA4: OlympiAD: Phase III trial of olaparib monotherapy versus chemotherapy for patients (pts) with HER2-negative metastatic breast cancer (mBC) and a germline BRCA mutation (gBRCAm). - Mark E. Robson et. al - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr LBA4)
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