Os estudos ASSESS, IGNITE e AURA I apresentados na ELCC 2016 mostraram o benefício da biópsia líquida para a seleção do tratamento em pacientes com câncer de pulmão de não-pequenas células (CPNPC), mas advertem que a genotipagem do plasma não substitui a biópsia de tecidos.
Testes para mutações no receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) selecionam pacientes que podem se beneficiar da terapia-alvo com inibidores de tirosina-quinase (TKI) e são o padrão ouro, mas na prática não podem ser realizados em cerca de 20% dos pacientes com CPNPC.É nessas situações que analisar o DNA circulante do tumor através do plasma pode ser uma alternativa importante, como confirmam os dados apresentados este ano na conferência europeia.
O estudo ASSESS, que em 2015 apresentou resultados preliminares, mostrou agora dados com 1.162 pacientes da Europa e Japão que demonstraram a viabilidade da biópsia líquida na prática do mundo real e sugerem que a análise apresenta maior sensibilidade em indivíduos abaixo de 65 anos e com maior carga de doença.
A análise apresentada em Genebra examinou se características demográficas ou associadas à própria doença influenciam a sensibilidade da detecção de mutações EGFR no plasma. Os pesquisadores concluíram que houve aumento da sensibilidade da análise na detecção de mutações de EGFR associadas com o aumento do número e severidade das metástases. A detecção de mutações EGFR no plasma também foi significativamente maior em pacientes com idade inferior a 65 anos (63,5% [IC 95%: 50 -75]) em comparação com pacientes com idade ≥ 65 anos mais velhos (37,3%; [29 a 46]); p = 0,0002.
Os achados do ASSESS foram convergentes com os resultados do estudo IGNITE. "Mais pesquisas são necessárias para confirmar esses resultados e identificar os mecanismos biológicos envolvidos", diz Nicola Normanno, pesquisador da Fundação Pascale, em Nápoles, Itália, autor de um dos trabalhos. "O aumento da capacidade de detectar mutações EGFR no plasma de pacientes com maior número de metástases faz sentido biologicamente, uma vez que esses pacientes têm maior carga tumoral e poderíamos esperar mais ctDNA no sangue. A mesma lógica pode ser verdade para pacientes com metástases à distância (M1b) ", esclarece.
No entanto, a associação entre a sensibilidade da análise e a idade dos pacientes não está bem clara. "A ligação com a idade é mais difícil de entender. As evidências sugerem que as características biológicas de certos tumores mudam com a idade, mas há necessidade de novas pesquisas para compreender essa correlação".
AURA I
Outro destaque da ELCC 2016 foi o AURA, estudo de fase I que avaliou a resposta ao agente osimertinib, um inibidor de EGFR de terceira geração que tem como alvo a mutação T790M. O estudo avaliou a eficácia de osimertinib, comparando resultados de biópsia de tecido tumoral ou extraídos de biópsia líquida, em pacientes com resistência adquirida aos inibidores de EGFR de primeira linha com mutação T790M L858R ou ainda com deleção do exon 19.
As análises de biópsias T790M positivas foram correlacionadas com altas taxas de resposta e sobrevida livre de progressão (SLP), enquanto tumores T790M negativos tiveram SLP e taxa de resposta modesta.
"A primeira conclusão é que um exame de sangue não-invasivo parece ter a capacidade de encontrar pacientes positivos para a mutação T790M de forma muito eficaz," disse o primeiro autor, Geoffrey Oxnard, do Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, que ressalvou, no entanto os limites da análise. "O exame de sangue só tem uma sensibilidade de 70% ou 80%, indicando que há falsos negativos", alerta.
Em sua sexta edição, a ELCC 2016 aconteceu em Genebra, de 13 a 16 de abril.
O estudo foi financiado pela AstraZeneca.
Referências: 58O_PR: Clinical and demographic features that influence EGFR mutation detection in plasma from patients (pts) with aNSCLC: The ASSESS experience. N. Normanno, Italy.
134O_PR: Plasma ctDNA analysis for detection of EGFR T790M mutation in patients (pts) with EGFR mutation-positive advanced non-small cell lung cancer (aNSCLC).S. Jenkins, UK.
135O_PR: Plasma genotyping for predicting benefit from osimertinib in patients (pts) with advanced NSCLC.G. Oxnard, US.
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