Experts brasileiros comentam alguns dos principais estudos apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium 2015. Confira a íntegra dos estudos e um survey que traz a opinião de líderes da oncologia brasileira sobre questões-chave para a prática clínica.
TABELA - Painel de Experts – 2015 San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS)
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Dois estudos apresentados no SABCS discutiram carboplatina neoadjuvante na doença triplo negativa: o CALGB/Alliance 40603 e o GeparSixto. Hoje, diante dos dados disponíveis, você adicionaria platina:
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De acordo com os dados do estudo CREATE-X, do Japan Breast Cancer Research Group (JBCRG), apresentados em San Antonio, você indicaria:
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No cenário localmente avançado? |
Em adjuvância na doença de alto risco? |
Capecitabina para pacientes com câncer de mama triplo-negativo que não alcançaram resposta patológica completa com a terapia neoadjuvante padrão?
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Capecitabina adjuvante para pacientes com tumor luminal A com doença residual? |
Antonio C. Buzaid |
Sim. O claro aumento de pCR, o aumento de DFS no GeparSixto e a tendência na direção de melhor DFS no estudo do CALGB com a adição da platina dão suporte a esta indicação. Vale ressaltar que são estudos de fase II que não foram desenhados para mostrar aumento de DFS, somente pCR. |
Sim. O impacto da neoadjuvância é semelhante à adjuvância. |
Sim. O estudo foi bem conduzido e mostrou aumento significativo de DFS e SG em pacientes com tumor triplo negativo. |
Não. O estudo não mostrou impacto em tumores luminais, somente em TN. |
Bruno Ferrari |
A adição da carboplatina no tratamento de pacientes triplo negativo com doença localmente avançada sugere benefício de acordo com os dados apresentados (GEPARSIXTO e CALGB 40603). Em casos bem selecionados indicaria tal tratamento. |
A princípio não temos dados clínicos que suportem a adição da carboplatina na adjuvância, mesmo em pacientes com perfil de doença específico. Essa conduta ainda deve ser avaliada e a princípio indicaria apenas em trials clínicos. |
Os dados do estudo CREATE- X foram surpreendentes e sustentam uma possível mudança na abordagem das pacientes sem resposta patológica completa após neoadjuvância. |
Procuro cada vez mais poupar as pacientes luminal A da quimioterapia, claro que selecionando pacientes com o perfil de melhor prognóstico e menor risco de recorrência. |
Carlos Barrios |
SIM. Embora os dados não sejam definitivos, na minha opinião o balanço de risco e benefício, considerando a toxicidade e a proporção de ganho dos pacientes, pesa a favor de administrar a carboplatina. |
SIM. O mesmo raciocínio. O benefício para uma paciente de alto risco está baseado no balanço entre risco e potencial vantagem de uso da medicação. |
SIM. Este é um grupo de pacientes de péssimo prognóstico e as evidências em um estudo randomizado de fase III indicam vantagens importantes nesse grupo, embora seja interessante um estudo confirmatório. Acho que essas evidências apontam para a indicação desse tipo de tratamento. |
NÃO. Nesse grupo de pacientes o uso da hormonioterapia é o tratamento convencional. Acho que os benefícios são menores, e o risco de recorrência é menor do que no grupo de pacientes com doença receptor hormonal negativo. Nesse subgrupo de pacientes acredito que a gente ainda deva esperar por outros resultados confirmatórios. |
Carlos Sampaio | Não standard, mas concordo que deve ser discutido. Embora persistam várias dúvidas em relação à incorporação definitiva de platina no tratamento neo e adjuvante de pacientes com câncer de mama triplo negativo, o conjunto de trabalhos científicos que apontam para a relação entre resposta patológica completa e impacto em DFS reforçam a estratégia. Questões relativas à seleção adequada de pacientes persistem, a exemplo de mutação versus não, história familiar de câncer e/ou subtipo de câncer de mama triplo negativo. Outro aspecto relevante envolve a escolha do regime de administração do platino, que talvez justifique os achados divergentes entre os dois estudos citados acima. Na minha opinião devemos considerar a inclusão de platino na neoadjuvância em pacientes com bom PS e doença localmente avançada mais extensa. Aguardamos estudos adicionais para definição da inclusão definitiva e escolha específica de regime de quimioterapia. | Não | Não. Sem dúvida os dados apresentados pelos autores do CREATE-X trial são extremamente interessantes, mas apontam em direção contrária a outros trials com estratégia semelhante (ex FINXX). Houve importante adição de toxicidade e cerca de 1/3 dos pacientes conseguiram concluir os 8 ciclos planejados (após 50 pacientes tratados com 6 ciclos). Há questões também relativas à população asiática e sensibilidade a derivados de 5Fu. O impacto observado, sobretudo na população de câncer de mama triplo negativo, chama clara atenção e suspeito que na prática muitas pacientes vão ser abordadas em relação ao uso de capecitabina após ausência de pCR no tratamento neoadjuvante, mas considero precipitada a incorporação deste esquema. Felizmente outros estudos devem ser apresentados brevemente, a exemplo do GEICAM2003/CIBOMA do qual participamos com nosso centro. | Não |
Gustavo Werutski |
SIM. Em pacientes selecionadas no cenário neoadjuvante é importante considerar o beneficio e o maior risco de toxicidade, especialmente hematológica. Apesar dos dados apresentados, os autores deixaram claro que ambos os estudos não foram desenhados com poder estatístico para demonstrar benefício em termos sobrevida livre de doença com adição de carboplatina. |
NÃO há dados neste sentido. |
Deve ser considerado. O estudo demonstrou benefício claro em termos de sobrevida livre de doença para esta população. Porém, algumas questões metodológicas foram discutidas, tais como dose, número e ciclos de capecitabina, impacto da farmacocinética em pacientes asiáticos, além de detalhes do tratamento neoadjuvante recebido, que devem ser melhor definidos na publicação do estudo. |
NÃO |
Marcelo Cruz |
SIM. O ganho na taxa de pCR se correlaciona com endpoints de sobrevida em câncer de mama triplo-negativo. |
SIM. O benefício da platina em triplo-negativo de alto risco e BRCA+ no tratamento neoadjuvante favorecem o ganho diante da doença com alto risco de recidiva. |
TALVEZ. Apesar dos dados em asiáticos com dose não usual de capecitabina, o risco de recorrência na ausência de pCR justifica o uso. |
NÃO. Considero necessário avaliar os dados no grupo Luminal A diante da baixa representatividade no estudo. Além disto, neste grupo sabemos que a ausência de pCR não relaciona tão negativamente quanto em TNBC. |
Max Mano |
NÃO. Após o SABCS 2015, os resultados são ainda mais inconsistentes que antes; ganhos em pCR são pequenos, em geral de uma magnitude insuficiente para justificar ganhos em DFS; aliás, a análise exploratória assistida não sugere ganhos em DFS no estudo CALGB. No estudo Alemão, além do problema de um braço controle inaceitável (de eficácia desconhecida), nem mesmo no subgrupo BRCA mutado houve benefício, contrariamente ao que se esperava. Ou seja, um benefício incerto, mesmo improvável, com aumento na toxicidade. Minha opinião não mudou |
NÃO |
NÃO. XELODA: estudo oriental, de difícil aplicação em pacientes ocidentais, ainda mais se tratando de fluoropirimidinas, onde questões de farmacogenômica podem ter relevância; pacientes ocidentais dificilmente toleram esta dose de capecitabina; quase 70% das pacientes eram ER+, e tenho muito receio de protelar a hormonioterapia adjuvante, tratamento de prima importância neste grupo; finalmente, resultados discordantes dos do estudo CIBOMA, este feito em pacientes ocidentais, inclusive latinas. |
NÃO. |
Rafael Kaliks |
Discutiria individualmente com pacientes selecionadas. Já fazemos isso há 1 ano. |
NÃO. Embora se acredite que “o que é bom na neoadjuvância é bom na adjuvância e vice-versa”, sem um dado CONCLUSIVO sobre benefício em SG ou ao menos SLD, acho temerário aumentar a toxicidade da QT adjuvante. |
NÃO. Esperaria a publicação para ver os dados com mais cuidado. |
NÃO. Os avanços do conhecimento atual nos indicam justamente uma outra direção, a da futilidade de quimioterapia na doença Luminal A. |