Descobertas na biologia do câncer de mama permitiram não só diferenciar padrões de comportamento tumoral, mas, principalmente, anunciar novas promessas para a prática clínica.
A doença HER2+ experimentou mudanças sem precedentes e é a grande vitrine de uma nova era na abordagem diagnóstica e terapêutica do câncer de mama. Os dados publicados por Slamon e colegas da Universidade da Califórnia promoveram uma verdadeira revolução. No final dos anos 90, a chegada do trastuzumabe mudou a história natural da doença e escreveu um novo capítulo na era da medicina personalizada.
Quem conta essa história é Eric Winer, do Dana-Farber Cancer Institute, que participou do 3º Simpósio Internacional do Grupo Oncoclínicas, em São Paulo. Winer percorreu duas décadas de avanços e sem exagero situa o trastuzumab como marco de um grande ciclo de mudanças no tratamento do câncer de mama. O anticorpo certamente impactou as curvas de sobrevida e promoveu ganhos significativos de sobrevida global, em diferentes cenários, seja na adjuvância, seja na doença metastática e até na neoadjuvância, revalorizada no contexto das recentes inovações.
Novos esquemas de combinação e anticorpos droga-conjugados começaram a apresentar dados robustos de eficácia. É o caso do ensaio CLEOPATRA, que avaliou a eficácia e segurança do esquema de combinação com pertuzumab + trastuzumab + docetaxel na doença metastática e estabeleceu um novo padrão de cuidados, hoje como primeira linha de tratamento. "O CLEOPATRA alcançou o desfecho primário e demonstrou ganhos significativos de sobrevida livre de progressão no cenário metastático da doença HER2+, com impacto sem precedente na mediana de sobrevida global. Em média, pacientes viveram 16 meses mais com o regime de combinação", lembrou Winer.
Também na doença avançada, o estudo EMILIA consagrou o TDM-1 (ado-trastuzumab emtansine) sobre o padrão capecitabina e lapatinibe, novamente com impacto na sobrevida global.
Terapia adjuvante
No cenário adjuvante, os dados do NSABP B-31 demonstraram a eficácia do uso de trastuzumab associado à terapia quimio-endócrina, desta vez não só para câncer de mama HER2-positivo, mas também, surpreendentemente, em tumores HER2-negativo.
A adição de trastuzumab em um cenário mais precoce da doença mudou as curvas de sobrevida, sugerindo vantagens com o uso do anticorpo por 1 ano também na doença inicial, com incremento em torno de 10% tanto na sobrevida livre de progressão quanto na sobrevida global.
Trabalho de Sara Tolaney (Adjuvant Paclitaxel and Trastuzumab for Node-Negative, HER2-Positive Breast Cancer) avaliou o uso do anticorpo em pacientes com doença estadio I e os dados mostram que a taxa de sobrevida livre de doença invasiva em 3 anos foi de 98,7%.
"Agora, os dados do APHINITY são aguardados com expectativa para avaliar o papel do anticorpo pertuzumab no cenário adjuvante", sinaliza Winer.
Na neoadjuvância, o estudo ALTTO infelizmente não alcançou os desfechos e apresentou resultados negativos, indicando que a combinação de lapatinibe e trastuzumab não impactou a sobrevida e ainda aumentou a toxicidade.
Outro ensaio que avaliou a abordagem sequencial com um ano de trastuzumab em neoadjuvância foi o ExteNET, desta vez seguida de um ano do inibidor de tirosina-quinase neratinib. Dados preliminares sugerem benefícios na sobrevida livre de doença invasiva (93.9% versus 91.6%).