O tema permanece como um dos mais controversos na abordagem do melanoma cutâneo e embasou a apresentação do médico João Duprat (foto) durante o 3º Simpósio Internacional do Grupo Oncoclínicas. Diante de um linfonodo sentinela positivo, vale à pena operar? Para Duprat, do AC Camargo Cancer Center, a cirurgia tem uma indicação cada vez mais restrita no tratamento do melanoma. No entanto, ele argumenta que há casos em que a abordagem cirúrgica realmente vale à pena.
“Nenhum cirurgião fica confortável em operar lesões mínimas ou em abordar a doença muito avançada, situações que acabam muitas vezes acrescentando morbidade. O ideal é fazer um tratamento sistêmico, mas a cirurgia ainda tem o seu papel e vai continuar tendo”, avalia.
O especialista lembra que o guideline do National Comprehensive Cancer Network (NCCN) deixa claro que para pacientes com sentinela positivo deve-se discutir e oferecer a linfadenectomia complementar. “Isso vem mudando, mas no momento o padrão é a linfadenectomia”, diz.
O desafio é a seleção de pacientes que podem se beneficiar da cirurgia. O grupo australiano avaliou um modelo preditivo e concluiu que aspectos como invasão perinodal e parâmetros como carga tumoral, tamanho da lesão e localização da metástase devem ser considerados.
“No nosso grupo, trabalho com 700 pacientes também mostrou que os fatores que realmente influenciaram foram o Breslow da lesão primária, a invasão capsular, como mostrou o trabalho australiano via invasão extra nodal, e a razão de área metastática no linfonodo, ou seja, a área comprometida e a carga tumoral. São esses os melhores fatores preditivos”, diz Duprat.
No entanto, o especialista lembra que trabalhos mais recentes sugerem que pacientes com linfonodo sentinela com menos de 0,2 mm poderiam ser poupados da cirurgia, o que se aproxima dos resultados do grupo holandês de Roterdan, que apontou nesse contexto os LNS com menos de 0,1 mm. “Quem vai realmente dizer a verdade sobre isso provavelmente vai ser o MSLT II (Multicenter Selective Lymphadenectomy Trial), que randomizou pacientes para receber linfadenectomia ou observação com ultrassonografia. Os resultados ainda são aguardados para 2022. “É muito tempo. Vamos ser precavidos e, por enquanto, indicar a linfadenectomia”, reforçou Duprat.