O oncologista Rafael Schmerling (foto), um dos maiores especialistas brasileiros em melanoma, participou do simpósio satélite promovido pela Bristol-Myers Squibb (BMS) no congresso franco-brasileiro, que enfatizou a experiência brasileira com o acesso expandido (Translating Expanded Access Program Experience into Clinical Practice: Brazilian Experience).
No Brasil, graças ao programa de acesso expandido aprovado pela Anvisa, 337 pacientes receberam ipilimumabe (Yervoy®) para o melanoma metastático ou irressecável. É a primeira imunoterapia que demonstrou aumentar significativamente a sobrevida de pacientes com esse tipo de câncer.
Schmerling, que também coordenou o painel de melanoma apresentado no encontro, apontou os grandes marcos que têm reformulado o panorama da doença.
O ipilimumabe veio em 2010, apresentado na sessão plenária da ASCO como um agente realmente revolucionário, que pela primeira vez em 20 anos foi capaz de demonstrar ganho de sobrevida no melanoma metastático.
O estudo considerou 676 pacientes com melanoma irressecável distribuídos na proporção de 3:1:1, para receber ipilimumabe em combinação com a vacina gp100 (403 pacientes) ou associada a placebo (137 pacientes), ou ainda para receber a vacina gp100 isoladamente (137 pacientes). O ipilimumabe alcançou o desfecho primário de sobrevida global (SG) com resultados sem precedentes. A mediana de SG foi de 10,0 meses entre os pacientes que receberam ipilimumab mais gp100, em comparação com 6,4 meses entre os que receberam gp100 isoladamente (HR 0.68, P <0,001). A mediana de sobrevida global com ipilimumabe isolado foi de 10,1 meses (HR na comparação com gp100 isoladamente de, 0,66, P = 0,003).
O agente demonstrou respostas duradouras e estabeleceu um platô na curva de sobrevida, na marca de 24%, após dois anos de seguimento.
Em 2011, foi a vez da terapia-alvo mostrar seu papel no tratamento da doença. A estratégia de inibir vias de sinalização diretamente envolvidas na carcinogênese teve impacto na atividade tumoral. A seleção de pacientes para o tratamento com inibidores de BRAF ou MEK passou a ser um novo paradigma e agentes como vemurafenibe, dabrafenibe, trametinibe e outros mostram resultados nas mutações positivas.
“São drogas que ampliam o arsenal terapêutico no cenário da doença metastática”, resume o especialista.
Segunda geração
Confiante na história de sucesso do ipilimumabe, a BMS apostou em novos inibidores de checkpoint. O estudo CHECKMATE-037 mostrou os benefícios do anti-PD-1 nivolumabe, que demonstrou ganhos de sobrevida na comparação com dacarbazina ou carboplatina/paclitaxel em pacientes de melanoma com BRAF selvagem.
Dados preliminares de um estudo de fase III apresentados na ESMO 2014 mostraram que o anticorpo monoclonal nivolumabe atingiu taxas de resposta de 32%, superiores e mais duradouras que a quimioterapia padrão em pacientes cujo melanoma progrediu após o tratamento com ipilimumabe.
O agente também foi bem tolerado e demonstrou menor toxicidade em relação ao braço da quimioterapia. Houve uma incidência de 31% de efeitos adversos de alto grau relacionados com o tratamento no grupo de quimioterapia em comparação com apenas 9% no grupo tratado com nivolumabe.