Na coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista André Murad (foto) explica o papel das aneuploidias na carcinogênese. Confira.
Por André Marcio Murad*
As aneuploidias, ou alterações no número de cromossomos inteiros ou braços cromossômicos, são eventos comuns no câncer, mas a sua contribuição para a sobrevivência das células tumorais é pouco entendida.
É sabido há mais de 100 anos que os cânceres exibem aneuploidia generalizada ou alterações no número de cópias cromossômicas. Por exemplo, cerca de 25% dos cânceres apresentam ganhos do braço q do cromossomo 1. No entanto, apesar da prevalência da aneuploidia entre os tipos mais comuns de câncer, seu papel na carcinogênese permanece pouco definido.
Mais recentemente, um grupo de pesquisadores desenvolveu uma ferramenta de engenharia cromossômica para avaliar a perda direcionada de braços cromossômicos aneuploides, comparando assim as linhas celulares de câncer isogênicas com e sem trissomias selecionadas. A técnica foi chamada de ReDACT (Restoring Disomy in Aneuploid cell using CRISPR Targeting) e consiste em um conjunto de ferramentas de engenharia cromossômica que permite a eliminação cromossomos aneuploides individuais dos genomas do câncer.
Graças a essa nova tecnologia sabemos, por exemplo, que a trissomia do cromossomo 1q, em particular, é vantajosa para as células cancerígenas e também para a perda da sinalização do gene supressor tumoral TP53.
Por outro lado, os tumores com esta aneuploidia são sensíveis a compostos ativados por uma enzima codificada no cromossomo 1q, sugerindo, consequentemente, uma possível intervenção terapêutica específica futura.
Adicionalmente, o desenvolvimento de metodologias flexíveis de engenharia cromossômica, como o ReDACT, permitirá experimentos adicionais para que as consequências das aneuploidias no desenvolvimento tumoral sejam melhor esclarecidas.