Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista André Murad (foto) discute a Síndrome da Neoplasia Hereditária Multilocus (do inglês, multilocus inherited neoplasia alleles syndrome - MINAS).
O teste genético do câncer hereditário usando painéis genéticos abrangentes pode identificar pacientes com mais de uma mutação patogênica em genes de câncer associados a riscos altos e/ou moderados. Esse fenômeno é conhecido como Síndrome da Neoplasia Hereditária Multilocus (do inglês, multilocus inherited neoplasia alleles syndrome - MINAS), que tem sido potencialmente ligada a manifestações clínicas mais graves, sendo recentemente descrita.
Um estudo recente avaliou uma coorte de 1023 pacientes não relacionados com suspeita de câncer hereditário, submetidos a um painel germinativo multigênico validado, incluindo até 135 genes associados a câncer hereditário e a facomatoses. Treze (1,37%) pacientes portadores de duas mutações patogênicas nos genes predisponentes ao câncer dominantes foram identificados, representando 5,7% (13/226) dos pacientes com mutações patogênicas. A maioria (10/13) desses casos apresentou manifestações clínicas associadas a apenas uma das mutações identificadas. Um caso mostrou mutações em MEN1 e MLH1 e desenvolveu tumores associados a ambas as síndromes de câncer.
Curiosamente, três dos pacientes com mutações duplas tinham uma idade jovem de início ou fenótipo grave de câncer de mama e apresentavam mutações nos genes associados ao reparo de danos ao DNA de risco moderado a baixo; dois deles apresentaram inativação bialélica de CHEK2. Estes dois pacientes foram incluídos na análise de k por conta de seu interesse clínico, embora os autores estivessem cientes de que eles não cumprem exatamente a definição de MINAS, pois ambas as mutações estão no mesmo gene.
Referência: Stradella A, del Valle J, Rofes P, et al - Does multilocus inherited neoplasia alleles syndrome have severe clinical expression? - Journal of Medical Genetics 2019;56:521-525.
Caso clínico da Clínica Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada
Sexo feminino, 59 anos, portadora de câncer de mama bilateral (mama direita em 2007) e esquerda em 2012, ambos carcinoma in situ com receptores hormonais positivos. Foi submetida a quadrantectomia em ambas as mamas e radioterapia bilateral (QUART). Fez uso de tamoxifeno adjuvante por 5 anos e posteriormente raloxifeno por 3 anos e não recebeu quimioterapia.
Chamou a atenção o histórico familiar da paciente, com vários parentes de primeiro e segundo grau (maternos e paternos) com diferentes tipos de câncer - mama, estômago, cólon, próstata e em idade abaixo de 55 anos. Não etilista, não tabagista, alimentação saudável. Atividade física irregular.
História pregressa: histerectomia em 2006 devido a miomas.
Devido a este histórico, suspeitou-se de uma síndrome hereditária de predisposição a câncer e um painel de triagem germinativa com 20 genes + CNV (análise do número de cópias de cada gene) foi solicitado (Painel de Triagem Germinativa- Laboratório Personal de Oncologia de Precisão). O exame identificou uma mutação patogênica em TP53 – (R337H) e também uma mutação patogênica de MSH2 (Ile704Thr). Portanto, trata-se de uma Síndrome da Neoplasia Hereditária Multilocus (MINAS) - no caso, uma combinação de uma Síndrome de Li- Fraumeni e uma Síndrome de Lynch.